Em vistoria, deputados encontram travestis no lugar de empresa e galpão irregular

Assessoria

A comitiva parlamentar nesta terça-feira estava formada pelos deputados Pátio, Pinheiro, Taborelli e Max Russi (PSB)

KEKA WERNECK
DA REDAÇÃO

Membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Renúncia e Sonegação Fiscal da Assembleia Legislativa de Mato Grosso confirmaram, in loco, na tarde desta terça-feira (2), que duas de seis empresas investigadas por crime fiscal, em Várzea Grande, são de fato de “laranjas”.

Onde deveria funcionar uma delas, a Nova Grãos, a diligência encontrou uma casa branca, onde moram três travestis, sendo que uma delas usa o nome de “Penélope”. A casa fica na rua Ministro Mário Machado, 374, no bairro Cristo Rei.

O aposentado Lázaro Francisco, de 73 anos, que mora ao lado há pelo menos três décadas, disse aos deputados em diligência, que viu uma movimentação estranha no local, mas não tem mais nada ali.

Um dos deputados que acompanhou a diligência, Emanuel Pinheiro (PR), supôs que a casa era o local de emissão de notas e outras movimentações irregulares de um esquema que teria facilitado a sonegação de R$ 14 milhões.

No outro endereço, ao invés da empresa Folha Verde, funcionam, na rua Eunice Gonçalves da Silva, S/Nº, em um galpão,  a Fértil Solo e  a Mira Grãos, além da Marmoraria Pompeia. O dono da marmoraria, José Manoel Nunes, recebeu a comitiva com irritação e queria saber do que se tratava. A postura dele irritou o deputado coronel Taborelli (PV). O deputado empurrou o rapaz, iniciando um tumulto. Nunes, depois de dar informações evasivas, acabou confirmando que é cunhado de Aldevino Aparecido Bissoli, proprietário das outras duas firmas que funcionam atualmente no local.

Muito suado, Nunes afirmou que não sabe de nada do “entra e sai” de caminhões no galpão e ficou de conversar com o cunhado para um dos dois comparecer à próxima audiência da CPI, quinta-feira (4), em que será ouvido o diretor executivo da JBS-Friboi, Valdir Aparecido Boni.

A estimativa dos deputados é que a Folha Verde, que está em nome de Paulo Bernardo de Campos,  tenha sonegado mais de R$ 100 milhões, lesando o erário estadual. Dos que estavam trabalhando no galpão, nenhum deles disse conhecê-lo.

O deputado José do Pátio (SD),presidente da CPI da Renúncia e Sonegação Fiscal, afirmou que, atrás desses laranjas e fantasmas estão grandes empresários. “Já chegamos à Friboi, nada impede que cheguemos a outras empresas também”, comentou.

No endereço da terceira empresa investigada pela CPI, em Cuiabá, é na verdade de uma casa abandonada. As outras três empresas também investigadas ficam em Primavera do Leste, além de outras no Médio Norte e no Norte do Estado.

O ESQUEMA

O esquema identificado pela CPI funciona assim. Empresas de distribuição de grãos e outros setores agrícola sonegam impostos, funcionam sob decisão liminar, depois “evaporam”, dando lugar a outra nova empresa, aberta em nome de um outro “laranja”, que volta a sonegar, requerer liminar e se extinguir.

O deputado Pinheiro não descartou a possibilidade do Judiciário ser investigado. Segundo ele, é possível duvidar dessas liminares, mas também é compreensível que não há como conferir cada endereço de empresa que solicita intervenção judicial. “Vamos apurar”, diz o parlamentar.

A COMITIVA

A comitiva parlamentar nesta terça-feira estava formada pelos deputados Pátio, Pinheiro, Taborelli e Max Russi (PSB), além de um oficial de justiça e o delegado Luciano Inácio.

Esta CPI está entrando em fase final mas o presidente afirma que precisará de mais prazo para novas investigações.