Renan Ramalho e Mariana Oliveira
Do G1 e da TV Globo BSB
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, incluiu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o empresário José Carlos Bumlai e seu filho Maurício Bumlai numa denúncia apresentada contra o senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) e o banqueiro André Esteves.
Janot diz que o ex-presidente manteve controle sobre as decisões do esquema operado na Petrobras. Lula tentou ainda influenciar o andamento da Lava Jato, segundo o procurador-geral.
“Embora afastado formalmente do governo, o ex-presidente Lula mantém o controle das decisões mais relevantes, inclusive no que concerne as articulações espúrias para influenciar o andamento da Operação Lava Jato, a sua nomeação ao primeiro escalão, à articulação do PT com o PMDB, o que perpassa o próprio relacionamento mantido entre os membros deste partidos no concerta do funcionamento da organização criminosa ora investigada”, diz o procurador.
“Essa organização criminosa jamais poderia ter funcionado por tantos anos e de uma forma tão ampla e agressiva no âmbito do governo federal sem que o ex-presidente Lula dela participasse”, afirmou Janot.
Em nota, o Instituto Lula negou participação do ex-presidente nos fatos investigados na Operação Lava Jato e diz ainda que ele "não deve e não teme investigações (leia a íntegra da nota ao final da reportagem).
Também são acusados no caso o ex-chefe de gabinete Diogo Ferreira e o advogado Edson Ribeiro, todos acusados de tentar embaraçar as investigações da Operação Lava Jato, ao tentarem evitar a delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.
Em um novo pedido de investigação sobre Lula e outras 30 pessoas, Janot informa que houve um aditamento na denúncia contra Delcídio e Esteves.
"As investigações ganharam novos contornos e se constatou que Luiz Inácio Lula da Silva, José Carlos Bumlai e Maurício Bumlai atuaram na compra do silêncio de Nestor Cerveró para proteger outros interesses, além daqueles inerentes a Delcídio e a André Esteves, dando ensejo ao aditamento da denúncia anteriormente oferecida", diz a peça.
A suspeita de que Lula seria interessado no silêncio de Cerveró foi relevada na delação de Delcídio. Ele contou que o ex-presidente também tinha interesse em ajudar a família, mas por meio de Bumlai, que faria os pagamentos.
Janot incluiu na denúncia documentos que atestam reuniões entre Lula e Delcídio “no período coincidente às negociatas envolvendo” Cerveró, além de registros de diversas conversas telefônicas entre Lula e Bumlai e entre este e Delcídio.
Origem da denúncia
A denúncia contra Delcídio e Esteves foi apresentada em dezembro, a partir de uma gravação em que o senador citava o nome do banqueiro como um dos interessados em ajudar financeiramente a família de Cerveró para evitar sua delação premiada.
Caberá ao ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, levar a peça para análise da Segunda Turma do STF, também composta pelos ministros Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Celso de Mello e Dias Toffoli. Se a denúncia for aceita contra todos os acusados, eles se tornam réus numa ação penal.
Íntegra da nota do Instituto Lula
A peça apresentada pelo Procurador-Geral da República indica apenas suposições e hipóteses sem qualquer valor de prova. Trata-se de uma antecipação de juízo, ofensiva e inaceitável.
O ex-presidente Lula não participou nem direta nem indiretamente de qualquer dos fatos investigados na Operação Lava Jato.
Nos últimos anos, Lula é alvo de verdadeira devassa. Suas atividades, palestras, viagens, contas bancarias, absolutamente tudo foi investigado, e nada foi encontrado de ilegal ou irregular.
Lula sempre colaborou com as autoridades no esclarecimento da verdade, inclusive prestando esclarecimentos à Procuradoria-Geral da República.
O ex-presidente Lula não deve e não teme investigações.