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Cuiabá, 26 de Abril de 2024
26 de Abril de 2024

03 de Janeiro de 2011, 11h:48 - A | A

POLÍCIA /

Drogas motivaram quase metade dos assassinatos na Capital



SILVANA RIBAS
A GAZETA

Metade dos assassinatos registrados na Grande Cuiabá este ano têm o tráfico ou uso de drogas como motivação. As armas de fogo foram usadas em 72% dos homicídios. É o que apontam levantamentos preliminares da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que entre janeiro e 31 de dezembro atenderam 311 homicídios em Cuiabá e Várzea Grande. Foram 199 ocorrências na Capital e 112 no município vizinho. Outros 13 latrocínios (roubos seguidos de morte) foram registrados, 6 na Capital e 7 em Várzea Grande, onde a violência explodiu no segundo semestre. Em 2009 o município registrou 100 homicídios e 10 latrocínios. Para o delegado Márcio Pieroni, titular da DHPP, somente a união de forças e uma política pública de combate ao tráfico de drogas e de tratamento para os dependentes químicos são a saída para a redução das mortes. Caso contrário a tendência é de que o número cresça ainda mais, graças ao avanço do tráfico no país.

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Um levantamento realizado nos 6 primeiros meses apontou que as drogas representavam 48% das motivações das mortes. Outros 23% tinham as causas desconhecidas e que também podem revelar, ao final das investigações, a droga como motivação. Os crimes passionais representaram 6% das mortes e as rixas 10% das causas de crimes. O álcool, que também é considerada uma droga lícita, motivou 3 % das mortes. O levantamento detalhado da DHPP deve ser divulgado no início deste mês, mas uma prévia já apontou que das 310 execuções investigadas, 133 aconteceram por cobranças de dívidas de usuários ou pela disputa de espaço na venda de drogas.

O delegado cobra um maior compromisso de outras instituições, principalmente das prefeituras dos 2 municípios. Aponta a falta de uma fiscalização mais dura, coibindo o funcionamento de bares e comércios que fomentam o tráfico de drogas, onde ocorrem as ações criminosas que resultam em crimes e mortes. Cita os exemplos de bares da praça Maria Taquara, em Cuiabá, onde ocorreu uma execução em dezembro. A motivação foi uma disputa por venda de drogas. Pieroni lembra que na década de 90, quando era titular da extinta delegacia Especializada de Jogos, Costumes e Diversões, a parceria existia e apresentava resultados. Fiscais de gerenciamento urbano mantinham contato estreito com a Polícia. Com frequência participavam de operações conjuntas em bares, boates e estabelecimentos que muitas vezes tinham as portas fechadas graças à fiscalização. O fator contribuía muito para a redução de crimes nos comércios e imediações.

O delegado exemplifica com o caso recente da interdição de bares e estabelecimentos na Salgadeira, na rodovia que liga Cuiabá a Chapada dos Guimarães (67 km ao norte de Cuiabá). "Tínhamos informações de que o tráfico de drogas em alguns dos comércios era intenso, além da venda de bebidas alcoólicas. Observamos que depois do fechamento deles, até o número de acidentes na rodovia reduziu significativamente".

O investimento em políticas de saúde para o tratamento dos dependentes químicos é fundamental quando se fala em reduzir as mortes. Cita como exemplo o bairro Alvorada, no entorno da rodoviária, onde este ano pelo menos 10 crimes contra a vida envolveram usuários que moram na rua ou transitam pela região. Quando não são alvos dos assassinos matam ou roubam para usarem as drogas.

As armas de fogo, como revólveres e pistolas, continuam sendo as mais usadas para a prática de homicídios. No primeiro semestre, elas foram responsáveis por 71,70% das mortes. Elas foram usadas em 216 crimes investigados pela DHPP. As facas provocaram 28 mortes. No mês de setembro, por exemplo, apenas uma morte foi provocada por faca (arma branca), enquanto 25 de 28 pessoas foram mortas a tiros. No crime que foi usada a faca, a vítima também foi atingida por tiros de revólver.

Nos crimes relacionados ao tráfico é comum a modalidade de aluguel de armas de fogo. As próprias bocas-de-fumo fornecem as armas para os criminosos, em troca de dinheiro ou, no caso dos roubos, por parte dos produtos roubados. Um aluguel para "parada" fica em torno de R$ 50, enquanto que uma arma calibre 38 pode ser comprada por cerca de R$ 350 no comércio ilegal.

O horário das 18h às 24h ainda é o que registra maior volume de mortes, com 37,11% ocorrências e das 24h às 6h representam 30% do total. Os dados do 1º semestre confirmam que as noites e madrugadas são mais violentas e os domingos registraram 18,24% dos crimes.

Os homens ainda são maioria entre as vítimas, com 94,34% do total contra 5,66% de mulheres, entre janeiro e junho deste ano. A faixa etária entre 19 e 30 anos é a mais visada, com 54,09% das vítimas.

Várzea Grande - Enquanto Cuiabá apresentou uma redução no número de homicídios, caindo de 205 em 2009 para 199 este ano, em Várzea Grande a violência cresceu. De 100 saltaram para 112, com um aumento de mais de 10%, afirma Pieroni. Em latrocínios a cidade também superou Cuiabá com 7 crimes, um a mais do que a Capital, que reduziu de 11 no ano passado para 6 este ano.

Pieroni considera Várzea Grande o "calcanhar de Aquiles" quando se trata de números de homicídios. A violência que impera no município vizinho, com uma população estimada de 253 mil habitantes, tem prejudicado a Capital, com seus 551 mil moradores. O titular da DHPP lembra que este ano a delegacia, com sede na Capital, teve que criar 2 divisões internas destinando grupos com 2 delegados para investigações dos crimes no município vizinho. Com isso, a equipe de investigação que não chega a 40 profissionais fica ainda menor para apurar os crimes na Capital. "É preciso cortar o cordão umbilical com Várzea Grande. Os crimes de homicídios precisam ser investigados por policiais que atuam nas delegacias de lá, como acontece em outros municípios do interior", opina Pieroni. Ele destaca que além da grande extensão territorial que apresenta o município, a falta de colaboração da própria Polícia instalada na cidade é um obstáculo na investigação dos crimes praticados lá.

A expectativa dele é que com o ingresso de novos delegados e investigadores aprovados no último concurso público, este projeto seja viabilizado urgentemente pela cúpula da Segurança Pública do Estado. "Hoje a violência que impera em Várzea Grande reflete negativamente para Cuiabá, quando os números de mortes são divulgados", A expectativa de Pieroni é de chegar a 90% de elucidação dos crimes investigados, com a identificação da autoria. No primeiro semestre, 85,53% dos assassinatos já tinham autoria conhecida.

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