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Cuiabá, 26 de Abril de 2024
26 de Abril de 2024

23 de Agosto de 2019, 10h:17 - A | A

VARIEDADES / RELATO

Enfrentei a família e me casei com meu enteado

A gerente de marketing mineira Débora*, de 35 anos, uniu-se a um homem bem mais velho e divorciado, quando tinha 16. Depois de conviver com o filho dele do primeiro casamento, apaixonou-se perdidamente e foi correspondida.

MARIE CLAIRE



“Havia acabado de ficar mocinha, aos 14 anos, quando conheci Mário*, 34. Empresário do ramo de transportes, sempre o via passar na saída da escola. Era alto, moreno, tinha um sorriso lindo. Via nele um pouco do meu pai, Valmir*, um homem protetor, que havia morrido seis anos antes e me fazia falta. Notava que ele me olhava e, meio de brincadeira, correspondia aos flertes. Estava no colegial e a maioria das meninas de Nanuque, cidade mineira de 40 mil habitantes onde morávamos, se casava logo depois dos 15. Assim, meu interesse por ele não estava fora da normalidade.

A primeira vez que Mário me abordou foi na saída da escola, num convite para tomar sorvete. Eu de mochila e saia curta, ele de jeans e camisa aberta no peito. Na conversa, me disse que havia sido casado e tinha um filho quase da minha idade. Na hora, confesso que me assustei, mas continuei o papo, enquanto devorava uma casquinha de flocos. Lembro bem de quando o sorvete começou a escorrer pelos meus dedos e ele beijou minhas mãos. Ali, me bateu uma vontade louca de agarrá­‑lo. Foi o que fiz. Saímos ‘extraoficialmente’ durante três meses. Nos víamos todos os dias, depois do sinal de encerramento das aulas. Era a maior agarração no carro. Fazíamos de tudo, mas, como era virgem, não transávamos efetivamente. Até que, louca de amor,  tomei coragem, contei para minha mãe e assumimos o namoro.

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Conservadora, dona Norma* dizia que ele era velho para mim, que só queria se aproveitar, que aquilo não tinha futuro. Brigava com ela diariamente. Falava que iria fugir, fazia escândalos. Por fim, não houve jeito. Ela acabou aceitando, mas com uma condição: tínhamos de namorar no portão de casa. E, claro, fazíamos o número das mãozinhas dadas, mas dávamos nossas escapulidas para o escritório dele. Podia ter aproveitado muito mais, mas, um mês depois, no dia em que perdi a virgindade, engravidei. E, no interior, quando isso acontece, as mulheres costumam casar antes de a barriga crescer para não ficarem ‘mal faladas’. Deu para segurar até os quatro meses de gestação até oficializar a união no juiz – já que ele era desquitado e eu, menor de idade.

Parei de estudar para cuidar do meu filho, Valmir Neto*. Passei a ser dona de casa em tempo integral, cresci na marra. Mário viajava muito a trabalho, só voltava quinzenalmente. E, quando estava comigo, já não era mais o cara carinhoso de antes. Em menos de sete meses, tornou-se agressivo, passou a beber e o conto de fadas desmoronou. Depois de um ano de casados, recebemos, num domingo de manhã, a visita inesperada de sua ex-mulher, que morava em Ecoporanga, a 110 quilômetros de nossa cidade, com duas malas na mão e o filho, Mário Jr.*, 15, a tiracolo. Ela havia recebido um convite de emprego em Vitória, no Espírito Santo, e largou o garoto lá. Bonito como meu marido, era moreno, alto, costas largas e não parecia tão jovem. O pai, que adorava o filho e tinha pouco contato com ele desde a separação, seis anos antes, ficou feliz da vida. Diferentemente de mim, que só pensava que minhas tarefas domésticas iriam aumentar um bocado.

No início, a convivência com Marinho era engraçada. Como sempre fui miúda, ele me chamava de ratinha, o que me deixava maluca de raiva. Tinha só um ano a menos do que eu e brigávamos como irmãos. Como ele fazia judô, adorava brincar de luta comigo e com meu filho. Quatro meses depois, durante uma viagem de meu marido, estava em casa fazendo a unha, quando ele chegou da escola. Parou na minha frente, ficou me olhando fixo e eu, incomodada, perguntei: ‘O que foi?’. Marinho disse que não tinha reparado como minhas pernas eram bonitas. Meio atrapalhada, mandei-o pegar seu prato no micro-ondas. Ele almoçou sem tirar os olhos de mim e fugi para o quarto. No dia seguinte, veio me mostrar um novo golpe. Me pegou por trás, caiu em cima do meu corpo e roubou um selinho. Constrangida, virei o rosto e fingi que nada havia acontecido.

Mas não tinha mais jeito. Algo naquele menino fazia meu coração disparar. Com a ausência do pai, Marinho agia como o homem da casa. Fazia tudo comigo, me sentia segura ao lado dele. E tratava a mim e a seu irmão de maneira cada vez mais carinhosa.

Até que uma noite, quando estava com 16 anos e eu 17, quis me ensinar outro golpe e de novo me jogou no chão. Só que, desta vez, me roubou um beijo de tirar o fôlego. E eu deixei. Meu filho dormia no quarto ao lado, enquanto rolávamos na sala. Senti um frio na barriga que se espalhou pelo corpo inteiro. Agora era oficial: estava apaixonada pelo meu enteado. E não sabia o que fazer. Me tranquei no quarto e só conseguia pensar naquele beijo e em tudo que estava acontecendo. Havia um estranhamento naquilo junto com a sensação de que não conseguiria fugir dele por muito mais tempo.

No dia seguinte, mal consegui olhar em seu rosto. Estava envergonhada, ele também. Naquele dia, só lhe dirigi a palavra para dizer que a mesa estava posta, num grito corriqueiro e impessoal, e comemos em silêncio. As duas semanas seguintes também se passaram assim: com um incômodo absoluto. Nos tratávamos com indiferença, fingindo que nada havia acontecido. Queria explodir de amor por Marinho e não sabia o que fazer.

Um mês após o beijo, o clima ainda estava estranho. Uma mistura de tensão sexual com culpa ou medo do que pudesse acontecer de fato. Até que, um dia, Marinho me viu saindo do banho, enrolada em uma toalha e, num ímpeto, me agarrou. Estávamos loucos um pelo outro e transamos em minha cama de casal. Achei lindo quando me contou que era virgem e, quando me dei conta, estava ensinando a ele todas as posições que havia aprendido com seu pai. Três horas depois de um sexo intenso e delicado, ele foi dormir no quarto ao lado e eu me tranquei no meu, pasma. Com o coração que parecia querer saltar do peito.

Passei a noite pensando na besteira que havia feito. No outro dia, o mal-estar voltou. Passamos duas semanas sem nos falarmos. Foi horrível, estranho, sentia um abismo dentro de mim. Até que o chamei para conversar e ele se declarou. Disse que sabia que aquilo não estava certo, mas não conseguia evitar. Sentia o mesmo, mas não falei nada. Continuamos calados por mais dois dias, quando seu pai chegou de viagem. Mário estranhou que o menino pouco falava e passava o dia fora de casa. Eu falei que devia ser por causa do período de provas e o assunto morreu. Na semana seguinte, meu marido pegou a estrada de novo e aí não conseguimos mais nos conter. Passamos a dormir todas as noites juntos, assim que meu filho adormecia. Para não levantar suspeita, quase não saía de casa. Nem precisava. Tudo que eu queria estava ali. Era bom demais!

Passaram-se dois meses e uma vizinha supercatólica, daquelas que adoram se intrometer na vida alheia, desconfiou do que estava acontecendo. Nosso sexo era quente e as casas, parede com parede. Provavelmente, ouviu algum barulho e começou a fazer fofocas pelo bairro. Por isso, sempre que Mário chegava, transava com ele para evitar desconfianças e Marinho, incomodado, dormia na casa de um colega da escola, o João*. Angustiado, acabou desabafando com esse amigo, que contou para outro amigo, que, por acaso, era filho da tal beata. Não preciso dizer que, em minutos, a cidade inteira sabia de tudo.

Para piorar, estava com a menstruação atrasada e, cinco dias depois de a gravidez se confirmar, em um teste de farmácia, recebi meu marido em casa, apavorada. Mário já entrou contando que tinha ouvindo o bafafá, mas que não acreditava em nada. Aliviada, contei que estava esperando um bebê – que, na verdade, nem sabia de quem era. Ele não foi efusivo, mas se disse feliz. E, para acabar de vez com o ti-ti­­‑ti, decidiu trazer sua mãe para passar uns dias conosco. Na cabeça dele, ela me ajudaria com a gravidez e ainda acabaria com as fofocas. Dona Dalva*, minha então sogra, mudou-se de mala e cuia para minha casa. Por sorte, passava a maior parte das noites torrando sua aposentadoria em um bingo da cidade e, nessas saídas, eu ficava com Marinho. Estava tudo perfeito até que, um dia, voltou mais cedo do que de costume e nos flagrou transando. A coitada quase enfartou! Começou a gritar, me xingar de todos os nomes possíveis, enquanto eu me cobria e Marinho corria pelado até seu quarto. Ela foi atrás e deu uma coça no neto, mas não sem antes cuspir na minha cara. Disse que ia esperar Mário chegar de viagem para lhe contar tudo, pois temia que algo acontecesse com ele ao saber que, sim, eram verdadeiros os boa­tos. Estava sendo duplamente traí­do: pela mulher e pelo filho.

Na mesma noite, peguei meu filho, arrumei minhas coisas e fui para a casa da minha mãe. Desesperada, contei tudo a ela, que ficou assustada, mas do meu lado. Com medo da reação do pai, Marinho pediu guarida para outro amigo da escola. Cinco dias depois, meu marido chegou e me procurou. Ameaçou tirar a guarda do meu filho, questionou a paternidade do bebê que eu esperava e me deu um tapa na cara. Furiosa, falei, aos gritos, que eu e Marinho nos amávamos e que queria me separar. Além de não aceitar, ele ainda me deu um soco que deixou meu olho esquerdo roxo. No dia seguinte, dei queixa na delegacia da mulher e consegui que fosse afastado de mim judicialmente.

Passei dois meses com minha mãe. Marinho me ligava diariamente. Perguntava da minha gestação (embora não falasse, sei que torcia para o neném ser dele – e eu também), de seu irmão, da minha alimentação, e fazia planos de viver ao meu lado. Nesse período, passou a morar com sua madrinha, dona Lúcia*, e ficamos um tempo sem nos ver. Minha mãe permitia que nos falássemos, mas proibia visitas para ‘não render ainda mais assunto’. Quatro meses depois, ela enfartou nos meus braços e morreu. Quase entrei em depressão. Atribuía sua morte à vergonha que ela dizia ter passado em nossa cidade. Mas precisava me fortalecer, já tinha problemas demais – e ainda estava grávida! Um mês após seu falecimento, Mário assinou o divórcio e fiquei livre para viver meu amor.

Marinho parou de estudar, conseguiu trabalho em um banco e foi morar comigo, meu filho e minha irmã na casa que era da minha mãe. Cortou relações de vez com o pai e com a avó. Mesmo em meio a essa confusão, meu bebê, Fabrício*, que já tem 17 anos, nasceu lindo e saudável. Continuo casada com Marinho. Quando meus filhos tinham 9 e 7 anos, voltei a estudar e entrei para a faculdade de marketing, meu grande sonho. Atualmente, trabalho como gerente de uma loja de departamentos e meu marido segue carreira no banco, em Belo Horizonte, para onde nos mudamos 11 anos atrás. Há três, engravidei novamente e tive gê­meos. Meus filhos conhecem nossa história. Uma única vez, aos 13, Fabrício questionou quem era seu progenitor. Conversamos bastante e ele entendeu que pai é quem cria e, com medo de magoar Marinho, preferiu não fazer o exame. Os dois se parecem muito, tanto fisicamente quanto no jeito. Vivemos com dignidade, fidelidade, e conseguimos manter o romantismo, mesmo depois de 18 anos. Não me arrependo de nada. Podemos não ser a mais convencional das famílias, mas somos muito, muito felizes.”

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