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Cuiabá, 26 de Abril de 2024
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01 de Julho de 2011, 23h:58 - A | A

VARIEDADES /

A falsa solidão - por Gabriel Novis Neves



GABRIEL NOVIS NEVES   22h55

Não sofro de solidão. É um sentimento que nunca experimentei. Mas, já presenciei a solidão de várias pessoas e de amigos.

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Certa ocasião, estava conversando em casa com um amigo - que não está mais entre nós - de repente ele levantou-se da sua poltrona, foi até o quarto e retornou com um velho violão.

Afinou seu velho e inseparável instrumento e a seguir iniciou a dedilhar as cordas e a cantar uma música de sua autoria. Era uma música triste. Jamais esqueci. Conhecia a sua vida e foi fácil entender os versos daquela canção:

"Não quero o teu amor
Nem o teu carinho
Vou viver sozinho
Vou viver sozinho
Pra meu consolo
Tenho as estrelinhas do céu
Tenho o livro e o violão
Pro meu pobre coração."

Este meu amigo sofria de solidão e, não suportando-a, encurtou a sua presença entre nós. A solidão dele não tinha nada a ver com a ausência de pessoas. Pelo contrário. Ele vivia cercado por uma multidão de amigos e colegas de uma das maiores universidades brasileiras.

O estado de solidão é um sentimento de difícil explicação. No momento atual da minha vida, eu estou só. Mas, não me sinto um solitário. Pelas circunstâncias da vida e, por livre escolha, é que estou sozinho.

Li uma vez que "solidão é a distância que o separa de você mesmo e não a distância que o separa dos outros".

E é assim que eu me sinto. De uns anos para cá, encurtei muito a distância que me separava de mim mesmo. E gostei da experiência. Quer dizer, gostei de estar na minha companhia. Por isso, é prazeroso para mim estar sozinho.

Escrevo e, muitas vezes, abordo o tema solidão utilizando-me como ator da solidão.

Utilizo essa metodologia conscientemente, com o objetivo maior de servir de voz a pessoas que não conseguem verbalizar, por um motivo ou outro, assuntos que os incomodam.

Outro dia me falaram que a solidão reclusão é a acomodação para se evitar o bom combate das idéias. Será isto? Não sei. Creio que a solidão é devido, principalmente, à baixa auto-estima.

Solidão não se cura num Maracanã lotado. A cura está mais próxima na companhia da pessoa agradável. Uma análise também ajuda. Uma conversa sobre banalidades, escutar música, drinque e um ambiente com bom visual, é a composição profana de um excelente fármaco anti solidão.

O crepúsculo do dia me lembra a solidão falsa que, de tão lindo, enche a gente do sentimento de perda de uma curta ausência.

Solidão falsa, pois do outro lado da janela fico com a companhia, muitas vezes, da misteriosa beleza da lua cheia.

Quando escrevo sobre solidão, recebo muitos e-mails com palavras consoladoras e edificantes, onde o leitor amigo, tenta elevar minha auto-estima. Assim como tentam me convencer que não sou idoso - sinônimo de solidão.

Agradeço esses e-mails, pois traduzo-os como uma forma de carinho. Entretanto, sei que sou um idoso, como sei também que não estou chegando ao fim, mas caminhando para lá.

 

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