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Cuiabá, 26 de Abril de 2024
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15 de Agosto de 2012, 08h:31 - A | A

OPINIÃO / CESAR VANUCCI

Os desdobramentos do caso Cachoeira

CESAR VANUCCI



Está certo. Ninguém pode ser julgado e condenado sumariamente por conta de alguma notícia desairosa de jornal. O Estado de direito que, mercê de Deus, rege “este País tropical, bonito pela própria natureza”, estabelece os procedimentos legais a serem rigorosamente observados em avaliações pertinentes à conduta de personagens da cena pública apontados pela mídia por supostas malfeitorias.

 

É o caso do suplente do tristemente célebre Demóstenes Torres. Ele acaba de assumir, de forma surpreendente pela rapidez do ato, sem desrespeito todavia aos preceitos regimentais, o posto de Senador pelo Estado de Goiás. Companheiro de lutas políticas do Senador destituído, Secretário de Estado até outro dia no governo goiano, um governo marcado por suspeitosas ligações com o crime organizado, e ao que tudo faz crer pessoa também chegada ao convívio do notório Carlinhos Cachoeira, o agora Senador Wilder Pedro de Morais não vai poder se furtar ao dever de oferecer explicação minuciosa e convincente acerca dos fatos graves que lhe têm sido imputados. A opinião pública espera que a respeito do assunto tudo seja conduzido nos devidos trinques constitucionais e com a rapidez recomendável pelas circunstâncias. Não existe outra maneira de encarar os acontecimentos. Se realmente comprovada a espúria ligação de Wilder Morais com a quadrilha de Cachoeira, seu defenestramento passa a ser uma questão de honra para o Parlamento. Vai ter que ser processada sem muita delonga.

 

E por falar em Carlinhos Cachoeira, a cada dia que passa ganha maior robustez na percepção de um bocado de gente a impressão de que a história desse cidadão, apontado como pivô de inacreditáveis malfeitorias, suplanta em gravidade outras maracutaias cabeludas que galvanizam na hora presente as atenções da opinião pública.

 

Não mais padecem dúvidas a respeito das engrenagens escabrosas que a quadrilha cuidou de montar nos corredores de repartições federais e estaduais, com realce para o Distrito Federal e os Estados de Goiás e Tocantins. O envolvimento, além do Senador afastado, de pelo menos um Governador de Estado e de outros políticos de projeção no esquema mafioso, é mais do que certo, a tomar por base as espantosas revelações já vindas a lume. A participação de agentes públicos de diferentes repartições, jornalistas, empresários de realce nos negócios espúrios está também devidamente documentada. A existência de um sistema amplo de arapongagem eletrônica com fitos de chantagem, movimentado por personagens do submundo, ficou devidamente configurada nas investigações.

 

O que vem na sequência das apurações não é menos chocante. Como registrou a IstoÉ, “o caso do bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, aos poucos vem ganhando também os contornos de uma trama policial complexa e com vítimas reais.” Os sinais dessa trama são copiosos. Reportemo-nos a alguns deles. Ameaças a juízes e procuradores (um deles buscou refúgio provisório, com os familiares, no exterior). Assassinato em circunstâncias estranhas de um agente da Policia Federal que havia atuado com destaque nas ações que permitiram o desbaratamento da quadrilha. A não localização do paradeiro, até aqui, de pelo menos três integrantes do grupo mafioso (um contador, um policial e um informante da quadrilha). A morte, aparentemente por suicídio, de um escrivão que trabalhou nas investigações ao lado do policial assassinado.

 

São lances, todos eles, que contribuem para que a história adquira dimensão de escândalo sem precedentes.

 

*Cesar Vanucci é jornalista

 

A redação do RepórterMT não se responsabiliza pelos artigos e conceitos assinados, aos quais representam a opinião pessoal do autor.

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