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Cuiabá, 26 de Abril de 2024
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10 de Maio de 2012, 08h:16 - A | A

OPINIÃO / ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA

Avanço racista

ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA



Este artigo dialoga com um colega da UFMT que foi uma das vozes mais importantes das que lutaram pelas cotas raciais (e não sociais) nas universidades.


Há pouco, o colega publicou dois artigos: 1º) “Código Florestal: está tudo dominado?”; 2º) “(In)constitucionalidade das cotas raciais?


Longe de ser um dos “iluminados que insistem em teses defendidas pelo DEM”, aproveito a primeira de suas indagações para responder a segunda, instigando outras; afinal, parafraseando conhecido slogan, as dúvidas é que movimentam a Academia. As certezas – mesmo quando são unânimes e advindas de tribunais superiores – podem até ser convenientes, mas não necessariamente inteligentes, como possam parecer.


No artigo sobre a aprovação – pelo Congresso – do novo Código Florestal, o colega (assim como eu) condena as manobras que visam anistiar desmatadores de áreas de preservação.


Para isso, ele relembra que a “Presidente disse ser contrária a tal anistia”. Assim, no calor de sua postura política, o colega – como já fizera Pe. Vieira em alguns discursos nos tempos coloniais – não mede o significado dos meios para obter a vitória. Por isso, o colega disse esperar “que a Presidente cumpra com sua palavra”, vetando a anistia referida. Que defesa!


Como não aposto nas saídas fáceis para a resolução de problemas complexos, como fazem os pós-modernos e alguns líderes de movimentos sociais, de chofre, condeno qualquer tipo de veto presidencial, ainda que ele possa me contemplar. Questão de coerência política.


O veto, assim como os decretos, independentemente da situação, desconsidera decisões do Congresso; logo, esse dispositivo, ainda que constitucional, tem um quê de saída política antidemocrática. No mais, se eu apoiar um veto, tenho de me calar perante todos os outros. Questão de raciocínio lógico.


Eis acima dois grandes problemas das universidades hoje: falta de coerência política e de raciocínio lógico. A perda desses dois bens é fruto dos estilhaços do Muro de Berlim que caíram sobre as cabecinhas ocas de agentes pós-modernos, que se acham progressistas, embora sejam autoritários. Logo, pior do que os baixos salários, esse é o lado da indigência acadêmica. Esse pensamento, ancorado no “politicamente correto”, faz tudo ficar dominado.


Sobre a unanimidade do STF, tornando constitucionais as cotas raciais, só posso lamentar. Sem nunca ter negado a existência de pontualidades racistas no Brasil, também contra negros, registro que poucas vezes se viu tanta força do Executivo sobre outra instância de poder. Aquela decisão política – mas com roupagem jurídica – livra o governo e algumas reitorias de universidades de muitos constrangimentos, mas, infelizmente, não de todos.


Sobre essa decisão, o colega com quem estou dialogando disse que o “STF agiu dignamente”. Todavia, silenciou-se sobre a exclusão dos índios e de outros pobres de cores diferentes que a preta. “F...” os outros! Por isso, nada foi dito sobre aquela cena chocante em que seguranças esfregaram no chão a cara de um índio que se opunha àquilo tudo. É a velha história da brasa e da sardinha. Ao invés da luta classista, a luta racista está dominando tudo.


Mas o feito está feito. Agora, espero o colega – que sempre diz defender o ensino público – se pronunciar sobre outra decisão absurda do STF: a constitucionalidade do PROUNI.


Como se sabe, qualquer leitura política honesta mostra que aquele programa eleitoreiro é canalização – na cara dura – de recursos públicos para faculdades privadas, a maioria sem qualidade alguma. Vai aplaudir essa também?


*Roberto Boaventura da Silva Sá é doutor em Jornalismo pela USP e professor de Literatura na UFMT.


A redação do RepórterMT não se responsabiliza pelos artigos e conceitos assinados, aos quais representam a opinião pessoal do autor.

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