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Cuiabá, 26 de Abril de 2024
26 de Abril de 2024

08 de Março de 2016, 00h:00 - A | A

GERAL / EXCLUSIVO

Mulher mais admirada e temida de MT, juíza enfrenta preconceito; 'nada me faz desistir'

"Até hoje eu noto que existem alterações nas audiências; as pessoas berram, se alteram e passam dos limites", diz. Ela pede que as mulheres não desistam de si.

KEKA WERNECK
DA REDAÇÃO



A juíza Selma Rosane de Arruda, titular da Sétima Vara Criminal de Cuiabá, onde tramitam processos de grande repercussão conduzidos por ela, envolvendo nomes de pessoas de poder, como o ex-deputado estadual José Riva (sem partido) e o ex-governdor Silval Barbosa (PMDB), é uma das mulheres de maior destaque, no momento, entre as mais de 1,5 milhão que vivem em Mato Grosso.

Na opinião dela, o principal recado a ser dado “a todas” neste  8 de março é: “Não duvide do seu potencial”.

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"Mas a gente nota que por mais que você se imponha na audiência você tem que chegar em um limite de ameaçar encerrar o ato, mandar prender, porque senão os caras não param".

Nascida em Camaquã, uma pequena cidade na região Sul do Rio Grande do Sul, com cerca de 62 mil habitantes, Selma Rosane chega, aos 53 anos,  à posição de magistrada dos processos mais visados em Mato Grosso, resultantes das operações Imperador, Sodoma e Metástase, Célula Mãe e Seven. A magistrada, não é exagero afirmar, se tornou perante à opinião pública, a mulher mais respeitada e, por que não dizer, temida de MT. 

Quase todos os réus destes e outros processos que ela conduz são homens. Mas ela afirma que não fez uma faculdade de direito, ainda em Porto Alegre, para deixar que alguém, seja do sexo feminino ou masculino, a impeça de se impor e exercer seu papel profissional e social.

"Acho que se fosse um juiz homem talvez não tivesse esse tipo de confronto. Pelo menos não nesse nível de agressão verbal. Mas o machismo nunca me desestimulou ou me fez pensar que não poderia lidar com isso".

No segundo grau, um professor percebeu que Selma tinha talento. “Uma vez eu fui defender um ponto de vista em uma aula de história e o professor falou: faz direito que você leva jeito”. Para azar dos seus réus, ela seguiu carreira, veio, como advogada, em 1986, para Rondonópolis, onde morou e trabalhou, até passar no concurso da magistratura, em 1994, tomando posse em 1996. Como juíza, atuou nas comarcas de Alta Floresta,  Nobres, Poxoréo, Cáceres, Várzea Grande e agora Cuiabá. Mas foi viajando o Brasil pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), participando de mutirões carcerários, que cresceu sua paixão pelo “crime”.

“Sempre tive paixão pelo crime, quando a gente faz a faculdade de direito esta é a área por quem todo mundo se apaixona, mas poucas pessoas seguem, porque não compensa financeiramente”, diz a juíza.

Isso talvez esteja mudando, pelo aumento de pessoas de poder aquisitivo que estão sendo investigadas, presas, processadas e condenadas no país.

Nos corredores do Fórum Criminal de Cuiabá o comentário é que todos os réus, sejam de renome ou não, querem fugir da “mão pesada” de Selma Rosane.

A magistrada recebeu o em seu gabinete para um bate-papo exclusivo. No dia da mulher, conheça um pouco mais desta magistrada que abalou as bases da corrupção em Mato Grosso. 

 

RepórterMT

Selma Rosane

A mulher de maior destaque no momento em MT.

 

A senhora atua há quanto tempo como juíza?

Desde 1996, já são 20 anos.

Como mulher, nesta profissão, já sentiu alguma forma de discriminação, desrespeito à sua pessoa, já teve que se impor de alguma forma por ser mulher?

Até hoje, algumas vezes eu noto que existem altercações na audiência, as pessoas se alteram, gritam, berram, passam dos limites.

Essas pessoas são réus ou advogados?

Homens. Eles se alteram não comigo, evidentemente, uns com os outros, geralmente. Mas a gente nota que, por mais que você se imponha na audiência, você tem que chegar em um limite de ameaçar encerrar o ato, mandar prender, porque senão os caras não param. Eles não aceitam que uma mulher que fala mais baixo, que tem a voz mais fina, mande em um cara que está falando grosso e quem está falando grosso não quer respeitar.

A senhora visualiza isso como machismo?

Eu visualizo sim.  Acho que se fosse um juiz homem talvez não tivesse esse tipo de confronto. Pelo menos não nesse nível de agressão verbal. Mas o machismo nunca me desestimulou ou me fez pensar que não poderia lidar com isso. Muito pelo contrário.

"Penso até mesmo no que os meus filhos esperariam que eu fizesse ou no que eu quero para meus netos. O que a minha decisão pode estar influenciando a sociedade como um todo"

A maioria dos réus com os quais a senhora lida são homens?

Sim.

A senhora já teve algum tipo de medo de represália, por ser mulher?

O magistrado, principalmente o criminal, carrega esta necessidade de ter uma segurança mais reforçada. Nesta vara especialmente, porque embora esteja com um viés mais político, digamos assim, também atende casos de organização criminosa, então essas operações do Comando Vermelho, Primeiro Comando da Capital e outras organizações criminosas, também são de competência desta vara. Isso acaba causando uma preocupação maior com os magistrados desta vara.

A senhora já passou por alguma situação real de insegurança ou é, por quanto, somente prevenção?

Atualmente não, mas a equipe responsável pela segurança dos magistrados do tribunal, cuja coordenadora é a desembargadora Maria Erotides, insistiu que minha segurança fosse reforçada, como garantia constitucional.

Mas isso não é incomum, não é?

Não. Muitos magistrados têm segurança. Alguns que estão na fronteira e receberam algum tipo de ameaça.

A senhora acha que a mulher tem um olhar diferente nos cargos que ocupa?

Sim . Ela é mais detalhista, caprichosa, falo por mim. Quando vou tomar uma decisão, não penso somente em mim e na técnica, mas no resultado social que ela vai causar. Penso até mesmo no que os meus filhos esperariam que eu fizesse ou no que eu quero para meus netos. O que a minha decisão pode estar influenciando a sociedade como um todo e a gente como avó e mãe tem também essa visão, que eu acho que o homem não tem, ele é mais pragmático.

A senhora tem filhos então?

Sim filhos e uma neta.

E dentro da sua preocupação com a segurança, a senhora procura proteger toda a família?

Claro. Nos cercamos de vários requisitos de segurança para ter tranquilidade.

A senhora acha que a mulher está ocupando cargos cada vez mais importantes?

É até clichê falar que a mulher está cada vez mais ocupando cargos importantes na sociedade, mas acho até que demorou para isso acontecer, porque é quase animal mesmo que o homem seja mais detentor da força e a mulher do intelecto. Então, não há motivo para espanto no meu ponto de vista. Só que, claro, isso é uma coisa que está acontecendo no mundo todo. Temos a Angela Merkel (presidente da Alemanha), mulheres de renome internacional, na magistratura também que estão cada vez mais sendo aprovadas em concurso.

A senhora é estudiosa?

Sim, adoro estudar.

Sempre foi assim?

Sempre, eu faço cursos, três, quatro, ao mesmo tempo.  Às vezes estou na academia, assistindo uma aula, ou no banheiro tomando banho e assistindo aula. (Risos)

A senhora trabalha muito?

Trabalho bastante.

Mas há um espaço para essa mulher, que ocupa cargos de relevância e trabalha muito, se cuidar?

Acho que ela deve se cuidar, porque a gente é ser humano e sempre tem aquele dia que a gente acorda, se olha no espelho e se acha a pior das pessoas, a mais gorda. (Risos).  Então, às vezes a gente está com essas coisas na cabeça, mas tem que enfrentar as situações processuais que não são simples, isso te dá uma carga muito grande negativa. Então, o que você faz? Você tenta se manter um pouquinho mais cuidada para que, quando este dia chegar, você não esteja tão para baixo. (Risos)

Pelo seu trabalho na magistratura, principalmente por estar à frente dos processos sobre desvio de dinheiro público, envolvendo pessoas de renome, a senhora recebe muitos  elogios, mensagens pelas redes sociais?

Eu recebo muito apoio. Na rua, no supermercado, no shopping, onde as pessoas me encontram, me dão os parabéns.

"A mensagem que eu daria para as mulheres é essa: não duvidar da sua capacidade de fazer o que é importante e necessário, pensando, como toda mulher pensa, não em si mesma só, mas nas futuras gerações"

A senhora já está conhecida?

É. No começo, eu ficava bem constrangida, porque na verdade a minha opinião é a de que qualquer colega que estivesse aqui estaria fazendo a mesma coisa. Não sou nenhum tipo de heroína e as circunstâncias que me levaram a estar aqui não pertencem a mim, mas ao destino, sei lá. Mas acredito que, qualquer um colega que estivesse aqui, com a profusão de provas e indícios que têm chegado, teriam tomada as mesmas decisões e seriam também admirados pela opinião pública. Por isso me senti constrangida no começo, mas hoje eu entendo o tanto que é bom receber um elogio, porque, como eu estava te falando no exemplo anterior, naquele dia em que você está mais para baixo você saber que a população e a opinião pública estão te apoiando é muito bom e gratificante.

A senhora se sente realizada, como juíza, como mulher?

Exato.

No dia das mulheres, há alguma mensagem que a senhora gostaria de ressaltar?

Eu gostaria de dizer uma coisa para as mulheres, às várias que eu conheço. Ainda há muitas mulheres que se vitimizam. Eu sou vítima, meu marido me largou com uma criança pequena, porque não consigo estudar para passar em um concurso porque tenho que cozinhar o arroz com feijão porque meu marido não faz. Porque não consigo isso, não consigo aquilo. Ainda tem muita mulher assim, infelizmente e a gente sabe que é forte o suficiente para conseguir. Eu chego em casa e faço janta. Como uma comidinha sem carboidrato e então faço. Almoço aqui no Fórum uma comidinha que eu faço. Tenho tempo de estudar, tenho tempo de estudar processo, tenho tempo de despachar, tempo de sentenciar e tenho tempo de fazer audiência, tenho tempo de fazer academia, então é uma coisa que a mulher às vezes não enxerga todo o potencial que ela tem e não aproveita desse potencial. A hora que ela desabrochar para compreender isso e parar de se sentir inferior e se reinventar a gente não vai precisar de ter um dia da mulher, todos os dias serão dias da mulher. Só de ter um dia da mulher já denota que existe realmente um preconceito, porque não tem o dia do homem, por exemplo. A mensagem que eu daria para as mulheres é essa: não duvidar da sua capacidade de fazer o que é importante e necessário, pensando, como toda mulher pensa, não em si mesma só, mas nas futuras gerações, na família e naquilo que vai deixar para as sociedades.

O que a senhora tem de mais forte?

A capacidade de superar. Nada me faz desistir de andar para frente.

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Elma Nara 08/03/2016

Angela Merkel, é CHANCELER da Alemanha, o Presidente se chama Joachim Gauck.

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JAIRO 08/03/2016

Parabéns..a sra é minha heroína.. vida longa a vc e muita sabedoria para encarrar essa quadrilha que estás desmantelando.. PARABÉNSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS MT AGRADECE A SRA

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andressa 08/03/2016

Parabéns magistrada! Orgulho de Mato Grosso e dos operadores do Direito!

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3 comentários

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