INARA FONSECA 11h51
DA REDAÇÃO
Com velas nas mãos, em sinal de luto, cerca de 70 pessoas protestaram na noite desta sexta-feira (23) em frente à pizzaria Rola Papo, no bairro Boa Esperança. Os manifestantes estavam indignados com a política do estabelecimento que com menos de 24 horas do assassinato de Toni Bernardo da Silva estava com as portas abertas, como se o crime não tivesse ocorrido. O movimento acusou a pizzaria de ter sido conivente com a morte do jovem.
“O Toni foi espancado por 10 minutos dentro do bar deles e ninguém fez nada? Eles foram coniventes. Além de não terem demonstrado nenhuma sensibilidade, uma noite após um crime brutal dentro da pizzaria e eles estão abertos? Aquele bar nunca respeitou estudante e está instalado num bairro universitário”, afirmou Mariarosa Fernandes, geóloga.
Após ocuparem as ruas laterais da pizzaria e colocarem as velas na calçada do local, os manifestantes nomearam o estabelecimento como "Rola Morte" e reivindicaram que a pizzaria fosse fechada naquela noite. Apenas depois de uma hora de protestos, o movimento conseguiu encerrar as atividades no local. Apesar do ato, o proprietário do Rola Papo não dialogou com os presentes.
Além do protesto, os estudantes da UFMT também denunciaram que a pizzaria teria alterado o cenário do crime. De acordo com a acadêmica de Direito, Lorena Silva, amigos de Toni Bernardo teriam tentando ver o corpo do rapaz após o assassinato, entretanto, foram barrados pelo dono da pizzaria que somente após ter retirado o sangue do local permitiu a entrada de terceiros. Toni Bernardo morava em uma república com amigos ao lado do estabelecimento.
Durante todo o ato, dois carros do 1º Batalhão da Polícia Militar e quatro policiais estavam presentes. De acordo com a polícia, o deslocamento até o local foi voluntário. "O dono do Rola Papo não nos chamou aqui. Eu soube que tinha um grupo de estudantes reunidos na UFMT e chamei os policiais para virem aqui. Sempre que tem movimento de estudante eu aviso mesmo", disse o Aspirante Freitas.
Além de amigos de Toni, estavam presentes no manifesto estudantes e professores da UFMT, representantes de entidades ligadas aos direitos humanos e o vereador Lúdio Cabral (PT).
De acordo com Dalete Soares, integrante do Fórum de Direitos Humanos, uma investigação apurada dos fatos é necessária para que o crime não fique impune. "Foi uma barbaridade o ocorrido. Nada justifica uma morte. Faremos tudo que estiver ao alcance do Fórum e estamos auxiliando para tentar assistir os familiares e amigos", disse Dalete.
UFMT x DROGAS
Responsável pelo acolhimento de Toni Bernardo da Silva, o rapaz saiu de Guiné Bissau para estudar Economia no Brasil, a Universidade Federal de Mato Grosso foi apontada como omissa pelo grupo durante a estadia do jovem em Cuiabá.
A historiadora e acadêmica de Serviço Social da UFMT, Cristiana Vasconcelos, questionou a falta de política da Instituição em relação ao uso de drogas dos estudantes. De acordo com Cristiana, a única ação da Universidade é reprimir os alunos usuários com aparato policial.
"É uma dura realidade. Todos sabem do alto índice de envolvimento de drogas dos estudantes da UFMT, mas a reitora não faz nada. Depois que eu entrei na universidade, me tornei alcoólatra. A pressão lá dentro é muito grande. Eles têm cinco assistentes sociais em desvio de função. A reitoria só enxerga a violência da polícia militar como forma de controle", disse Cristina.
De acordo com relato de amigos, Toni Bernardo tornou-se usuário depois de ter ingressado na UFMT. A Instituição alega que sabia do envolvimento com drogas do rapaz e tentou ajudá-lo, sem êxito.
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