facebook-icon-color.png instagram-icon-color.png twitter-icon-color.png youtube-icon-color.png tiktok-icon-color.png
Cuiabá, 11 de Maio de 2024
11 de Maio de 2024

26 de Maio de 2016, 07h:40 - A | A

POLÍCIA / "É MUITA CARA DE PAU"

Estelionatários aplicam golpe do 'bilhete premiado' na porta do Tribunal de Justiça

A denúncia foi feita por uma leitora que não caiu no golpe. O delegado aponta que nesse tipo de golpe, os criminosos procuram pessoas que aparentam ter alto poder aquisitivo para barganhar um alto valor pelo falso bilhete premiado

CELLY SILVA
DA REDAÇÃO



A lista de golpes praticados por estelionatários nas ruas parece não ter fim. Nesta segunda-feira, foi descoberta a farsa de um falso sociólogo que dizia ter doutorado e até dava aulas no curso de formação da Polícia Militar de Mato Grosso. Desta vez, o recebeu, de uma leitora, a denúncia de que, nesta semana, foi alvo de uma dupla de estelionatários que tentaram, sem sucesso, aplicar o golpe do bilhete premiado.

A internauta, que prefere não ser identificada, conta que estava no estacionamento do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) quando foi abordada por uma mulher, aparentemente pobre e interiorana, que pedia informações sobre a localização de uma loja agropecuária.

>>> Clique aqui e receba notícias de MT na palma da sua mão

“Ela estava com um cartão na mão, eu disse que ali não tinha agropecuária, só órgãos públicos. Nisso ia passando um cara atrás de mim, ela já gritou ele, ele veio e ela falou a mesma coisa, ele pegou o cartão e ligou no número, dava que não existia”, conta.

De acordo com a leitora, a golpista, com sotaque “caipira” e se passando por perdida na cidade, disse que vinha de Jaciara a procura do dono da loja agropecuária. Contou ainda que morava no interior de Pernambuco e que havia se mudado com a mãe e os patrões para Jaciara. À internauta, a golpista disse que antes de vir para Mato Grosso, ela teria ido, “em um lugar onde as pessoas pagam conta”, certamente na casa lotérica, para pagar as contas dos patrões. Com o troco, a vendedora lhe ofereceu uma rifa e ela acabou aceitando.

Já em Jaciara, ela mostrou essa rifa para o dono da agropecuária. O homem, chamado de Jorge Haddad pela golpista, teria telefonado para o número indicado no bilhete e ficado muito nervoso. Ele teria dito à mulher que o bilhete dela estava premiado e ela teria direito a receber R$ 20 mil. Ele teria oferecido um cheque no mesmo valor para a suposta ganhadora do prêmio, mas ela não aceitou receber em cheque e se comprometeu a vir a Cuiabá para encontrar com o empresário e receber o valor em dinheiro, mas não estava encontrando o estabelecimento.

“A lábia dos dois é muito boa! É muito boa! Muito convincente porque ela tem um sotaque muito de alguém do mato e ele superdisposto”, conta a leitora

Após ouvir toda essa história da golpista, a leitora do conta que pediu para ver a tal “rifa” e verificou que era um bilhete da Mega Sena. No mesmo instante, o homem que a golpista havia chamado também verificou o bilhete e, na mesma hora, mostrou no celular dele que o bilhete havia sido sorteado na cidade de Afrânio, em Pernambuco, onde a golpista dizia ter comprado o bilhete antes de vir para Mato Grosso. Segundo o homem, comparsa no golpe, o bilhete valia R$ 9 milhões.

Desconfiada, a leitora propôs levar a mulher até uma agência da Caixa Econômica Federal (CEF) para que ela pudesse retirar o prêmio. Neste instante, o homem se mostrou contrário, dizendo que era preciso ter calma e verificar melhor.

A leitora relatou que o homem disse que conhecia um bancário da Caixa, no mesmo instante ele ligou para o falso bancário. Já no início da ligação, a pessoa do outro lado da linha confirma a informação de que o bilhete estava premiado no valor de R$ 9 milhões. A golpista disse à leitora que pagaria a ela R$ 100 mil caso ela a ajudasse.

Mas a golpista diz não ter como retirar o prêmio porque foi roubada e estava sem documentos. Certa de que se tratava de uma dupla de estelionatários que contava com um terceiro parceiro na ligação, a leitora disse que precisava ir ao tribunal e que na volta iria levar a mulher para uma delegacia, para que ela pudesse reaver seus documentos e depois pegar o prêmio.

"Fiquei chocada justamente pelo local onde eles me abordaram. Eu estava entrando no anexo do Tribunal de Justiça. É muita coragem!”, afirma.

Assim que ela entrou e procurou um policial, a dupla de golpistas desapareceu no mesmo instante, percebendo que a mulher não havia acreditado neles. “A lábia dos dois é muito boa! É muito boa! Muito convincente porque ela tem um sotaque muito de alguém do mato e ele superdisposto”, conta a leitora do .

Outro detalhe que impressionou a mulher alvo da ação dos golpistas foi a ousadia de ambos em escolher o pátio de um tribunal para cometer o crime. “Fiquei chocada justamente pelo local onde eles me abordaram. Eu estava entrando no Tribunal de Justiça. É muita coragem!”, afirma.

“Já tem uma meia dúzia de casos aqui. Eu acredito que seja o mesmo grupo, mas não temos imagens deles ainda”, disse o delegado.

“Ela se faz passar por uma ignorante que, coitada, não sabe nem do que se fala. É muito impressionante como é a lábia dos dois! Quando eu falei: vou lá assinar um documento e já volto aqui, eles disseram: Não, mas você não conta nada pra ninguém do que aconteceu”, relata a leitora.

Ao o delegado José Carlos Damian, especializado em investigar crimes de estelionato, conta que já recebeu denúncias de casos semelhantes. “Já tem uma meia dúzia de casos aqui. Eu acredito que seja o mesmo grupo, mas não temos imagens deles ainda”, diz.

“Em um dos casos que foi registrado aqui, a mulher perdeu R$ 300 mil. Eles tinham dinheiro, tinham joias. Ela entregou objetos, joias, etc. E não tinha bilhete nenhum, pediram pra ela pegar água e quando ela voltou todo mundo já tinha sumido”, relata do delegado.

Ainda segundo Damian, nesse tipo de golpe, os criminosos procuram pessoas que aparentam ter alto poder aquisitivo para barganhar um alto valor pelo falso bilhete premiado. Por conta da falta de recursos para investigar todos os casos, ninguém foi preso até o momento.

O delegado Damian conta que muitas pessoas deixam de registrar o boletim de ocorrência quando não caem no golpe, mas alerta que, mesmo quando a pessoa percebe se tratar de um golpista e consegue se livrar da farsa, é importante fazer o registro do ocorrido juntamente com um retrato falado para ajudar a Polícia a ter mais pistas e identificar os criminosos. “O recado que a gente dá é para que não aceite esse tipo de interpelação, que as pessoas, acima de tudo, desconfiem”, alerta o delegado. 

Comente esta notícia