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Cuiabá, 26 de Abril de 2024
26 de Abril de 2024

16 de Julho de 2018, 08h:06 - A | A

OPINIÃO / RENATO DE PAIVA PEREIRA

Voto consciente

Mantido o atual processo de escolha dos políticos, reproduziremos sempre os mesmos resultados



Não conheço o Congresso Nacional, nem tenho intimidades com políticos para informar-me, mas creio que é possível imaginar como funcionam os conchavos lá dentro, para favorecer as famosas “bases” eleitorais de cada um.

Assim: Um deputado ligado aos funcionários públicos, por exemplo, está empenhado em buscar vantagens para essa categoria, mas ele precisa do apoio dos companheiros para aprovar propostas. Conversa então com os colegas que têm sua base, digamos, nos agricultores e pede ajuda para as demandas dos funcionários públicos, garantindo-lhes apoio em futuras pretensões dos eleitores deles.

A rede de relacionamentos se expande de tal forma que cada um vai criando compromissos e prometendo apoios sem limites aos representantes de outros nichos, com dinheiro que não é deles, claro.

Aconteceram intensas negociações, como a imaginada acima quarta-feira passada (11/07), no quase encerramento da atual legislatura. Bondosamente os parlamentares espalharam dinheiro público a vários redutos eleitorais, para garantir a reeleição. Os entendidos afirmam que o  rombo pode chegar a 100 bilhões de reais.

Nesse dia os deputados ligados ao setor de transportes, em retribuição ao voto já recebido e buscando apoio para as próximas eleições, conseguiram aprovar a anulação das multas aplicadas durante a famosa greve, que parou o Brasil em maio.  

Da mesma forma o funcionalismo público, que estava proibido de receber reajuste durante o ano de 2019, com a ajuda de seus representantes políticos garantiram a reversão da ordem.

Houve ainda o caso dos agricultores, cuja anistia de multas e juros das dívidas, havia sido vetada pela Presidência da República. Eles pegaram uma beira no pacote de benesses conseguindo vetar o veto.

Também a antes aprovada exigência de fazer economia, primeiro de 10%%, depois de 5%, nos gastos de custeio do governo federal, foi derrubada porque os parlamentares estavam de bom humor e não queriam falar de austeridade naquele momento.

Mas, na verdade os políticos não agem ilicitamente ao buscar benefícios para a classe que os elegeu, pois entendem que para isso foram eleitos. Afinal populismo, irresponsabilidade e oportunismo podem caracterizar mau-caráter, mas não crime.

Da mesma forma não dá pra condenar os participantes de cada categoria por reconduzir ao cargo, através do voto “consciente” os eleitos que os defenderam quando precisaram. Ingratos seriam se recebessem o benefício que pediram e abandonassem o político.

Individualmente os favorecidos pela farra fiscal deste final de legislatura, agiram dentro do esperado. Qualquer um de nós busca vantagens, ainda que em desfavor dos outros, através de nossos eleitos. Exigir que o ser humano priorize o coletivo em prejuízo do individual é desconhecer ou negar a natureza humana.

A conclusão é que, mantido o atual processo de escolha dos políticos, reproduziremos sempre esse resultado. Como na situação chamada de “Tragédia dos Comuns”, cada seguimento ou categoria, usando sua maior representatividade para retirar mais comida da panela comunitária, onera os demais que pagam por um bem que não consumiram.

A solução é acabar com a democracia?  Acho que não, mas a forma de seleção dos parlamentares precisa ser mudada.  O “sagrado voto universal”, é apenas um chavão recorrente. Também o “voto consciente” é outro desgastado clichê: para o pobre, ele é representado pela escolha de quem garante o bolsa família; o funcionário público “responsavelmente” vota em quem mantém ou amplia seus privilégios. O empresário, “conscientemente” apoia os que trabalham para reduzir impostos da sua atividade.  

Tem outra forma de escolha? Com certeza tem, mas pelo jeito, não interessa a ninguém.

RENATO DE PAIVA PEREIRA é  empresário e escritor

 

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