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Cuiabá, 06 de Maio de 2024
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24 de Março de 2019, 07h:55 - A | A

OPINIÃO / EDUARDO MAHON

Sarna pra se coçar

Para apurar o desprestígio da Suprema Corte com as acusações trocadas entre os próprios Ministros, desconfio que não haverá polícia suficiente



O Presidente do STF arrumou uma boa sarna para se coçar. Abriu, de ofício, inquérito para investigar não se sabe exatamente o quê, mas provavelmente seja as declarações públicas de Deltan Dallagnol, abrindo contagem regressiva para o que chamou de “golpe”. Tratava-se do julgamento onde, efetivamente, o STF decidiu que os crimes de lavagem de dinheiro, quando conexos a outros delitos eleitorais, são da competência da justiça eleitoral. Deltan pode ter se excedido. No meio jurídico (como em qualquer outro), por pior que sejam as divergências, deve-se manter o nível de civilidade, se não pela educação recebida em casa, em homenagem às instituições que resguardam a Constituição do país.

O inquérito não contou com o sorteio. Foi de encomenda para o Min. Alexandre de Moraes. Ele vai ter muito trabalho para investigar. Isso porque, na própria cozinha, os Ministros já se acusaram o suficiente para dezenas de investigações. Um dos exemplos foi o gravíssimo pito que o Min. Joaquim Barbosa passou no colega Gilmar Mendes. Num bate boca rasteiro, incompatível com a posição de ministros da Suprema Corte, Barbosa soltou o petardo: “Vossa Excelência não está na rua, Vossa Excelência está na mídia, destruindo a credibilidade da Justiça brasileira. Vossa Excelência não está falando com seus capangas do Mato Grosso”. Pois bem. Que capangas são esses? Ao que me conste, quem tem capangas é criminoso, a menos que “capangas” seja entendido como uma pequena bolsa, como trazem os dicionários. Não foi aberto inquérito para apurar a razão pela qual Gilmar Mendes estaria destruindo a credibilidade do Poder Judiciário brasileiro. Ainda dá tempo, no entanto.

Outra boa oportunidade de investigação que foi perdida pelo STF refere-se à antológica descompostura que o Min. Barroso passou no mesmo colega chamado de líder de capangas, o próprio Gilmar Mendes. Ao descer da costumeira fleuma, Barroso virou meme de internet. A acusação foi tão forte que chegou a virar camiseta e caneca: “Me deixa de fora do seu mau sentimento. Você é uma pessoa horrível. Uma mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia. Isso não tem nada a ver com o que está sendo julgado. É um absurdo, Vossa Excelência aqui fazer um comício, cheio de ofensas, grosserias. Vossa Excelência não consegue articular um argumento, fica procurando, já ofendeu a presidente, já ofendeu o ministro Fux, agora chegou a mim. A vida para Vossa Excelência é ofender as pessoas”.

Analisando detidamente o que o Min. Barroso afirmou, não é nenhuma acusação dizer que Gilmar Mendes é uma mistura de mal com atraso. Trata-se de uma opinião, por pior que ela seja. Ocorre que, de quebra, o ministro chamou o colega de “psicopata”, ou seja, portador de uma gravíssima enfermidade mental que pode conduzir o portador ao cometimento de crimes. Na visão de Barroso, o colega é profissional em ofender as pessoas, formando-se filas de magoados. Lembremos, por exemplo, do Min. Nelson Jobim que foi uma das vítimas.

Em resposta, Jobim disse que Gilmar Mendes espalhou notícias falsas na mídia: “Na época em que houve um café da manhã no meu escritório, Lula queria me visitar. Eu tinha saído do Ministério da Defesa na época, e ele queria me fazer uma visita. E o Gilmar foi convidado para ir também. Foi uma conversa tranquila, sem nenhuma dificuldade. Eu perguntei ao Gilmar sobre o andamento do mensalão, se ia votar ou não ia votar. Ele disse que achava melhor votar logo para resolver o assunto e foi isso. Trinta dias depois desse café da manhã é que houve essa indignação do ministro Gilmar fazendo uma versão que não era verdadeira e que, na época, eu neguei. Continuo negando. Trinta dias depois é que eu recebo a notícia de uma matéria da Veja. Mandei uns SMS que eu tenho guardados ao ministro Gilmar. E ele disse que houve uma série de coisas, que ele havia conversado com A, com B, com C. E que a versão que tinha saído na Veja vinha de terceiros. E eu então disse, mas é curioso. Como assim de terceiros, se éramos só nós três?”

Como se vê, o Presidente do STF arrumou sarna pra se coçar. Será que investigará a acusação do Min. Barbosa ao colega Lewandowski, afirmando que advogava para criminosos? Será que investigará o ex-Procurador Geral Janot ao afirmar que Gilmar Mendes sofria de desinteria mental? Será que o senador Lasier Martins será investigado por afirmar que Gilmar Mendes é um “libertador geral dos delinquentes”? Será que o PT será investigado por chamar Gilmar Mendes de “parcial, golpista e tucano de toga”? Será que o Min. Barroso será investigado por declarar que o Min. Gilmar Mendes tem “ parceria com a leniência em relação à criminalidade de colarinho branco”? Para apurar o desprestígio da Suprema Corte com as acusações trocadas entre os próprios Ministros, desconfio que não haverá polícia suficiente.

(*) EDUARDO MAHON é advogado, escritor e membro da Academia Mato-grossense de Letras e escreve para HiperNotícias às sextas. E-mail: [email protected]

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