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Cuiabá, 14 de Maio de 2024
14 de Maio de 2024

24 de Setembro de 2018, 08h:56 - A | A

OPINIÃO / ROBERTO DE BARROS FREIRE

Estelionato eleitoral

Ninguém fala o que fará com a dívida pública; é como se ela não existisse.



Ao que tudo indica estamos diante de mais um estelionato eleitoral; com exceção da candidata do PSTU, que afirma que não pagará a dívida, o que sem dúvida é um absurdo, mas pelo menos é honesta, ninguém fala o que fará com a dívida pública; é como se ela não existisse. Todos falam que farão milhões de coisas agradáveis, que terminarão obras, que farão escolas, darão ensino integral, hospitais, que aumentarão a segurança e as forças policiais, que guardarão nossas fronteiras com infindáveis guardas e tecnologias, que farão estradas e ferrovias, enfim, que resolverão todas as nossas dificuldades, sem mencionarem como pagarão nossas dívidas.

O fato é um só: não temos dinheiro nem para pagar nossas despesas atuais - tanto que aumentamos anualmente em bilhões de reais a dívida pública, a tal ponto que está se tornando impagável - e nenhum dos candidatos que estão à frente nas pesquisas menciona como pagará as dívidas, aliás, nem mencionam a sua existência.

Há candidato que diz que acabará com as dívidas dos cidadãos, mas não diz como acabará com a dívida estatal. Há candidato que diz que retomará todas as obras inacabadas, mas não diz de onde tirará o dinheiro para tanto, que não existe. Há candidato que diz que aumentará o número de empregos sem mencionar como fará esse milagre. Há candidatos que prometem um retorno a uma época que não existe nem poderá existir novamente, pois a história nunca se repete, senão como farsa.

Todos estão mentindo, querendo nos iludir, afirmando a solução de problemas não existentes e sem tocarem no principal problema de todos nós: como pagar a dívida pública que não para de crescer. Dizem que farão reformas, mas como e que reformas pouco ou mesmo nada dizem, senão coisas genéricas como “reforma tributária”, “reforma trabalhista”, “reforma fiscal”, “reforma previdenciária”, enfim, o que se entende por isso nenhum deles nada afirma de positivo, quando muito dizem o que não farão, o que de forma alguma é confiável, pois que governantes tem o triste hábito de prometer tudo quando em campanha e não realizarem nada quando no governo.

Calam-se sobre a dívida porque o remédio não será apenas amargo, temo que seja na verdade um supositório imenso. O próximo governo não terá condições boas para governar, apenas dificuldades e carências; não irá gerir um patrimônio, mas uma dívida gigantesca que cresce exatamente pelas promessas irresponsáveis que os governantes anteriores fizeram e deixaram para os futuros governantes resolverem. Não há candidatos sérios tocando e nos preparando para o que virá, que não será um mar de rosas, mas uma maré de dificuldades e falta de recursos. Não temos um futuro dourado, mas um futuro incerto e cheio de desafios para serem superados.

Ao invés de nos preparar para a dificuldade, nos iludem com promessas não realizáveis. Ao invés de procurar nos sintonizar e engajar num trabalho cívico para a solução dos problemas, nos colocam em lutas infindáveis de setores sociais contra outros setores para a preservação de privilégios. Deveriam estar nos preparando para um período difícil ao invés de fazer propaganda enganosa sobre dias bons num futuro inexistente. O próximo governante não herdará um paraíso, mas um inferno.

ROBERTO DE BARROS FREIRE é professor do Departamento de Filosofia da UFMT.

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