GABRIEL NOVIS NEVES
No início do século XXI, o governo que assumiu o comando político do Estado, implicou com duas coisas: o tênis usado pelos políticos jovens que deixavam o poder para os ruralistas usuários de botas e com uma misteriosa mala preta que nunca foi encontrada.
Quando da morte do suposto dono da mala preta, o governador pediu desculpas à família enlutada, dizendo que a história da mala era uma jogada de desconstrução de um governador que deixou o governo arrumado para os migrantes afoitos pelo poder.
O novo governo se auto-intitulou como o governo de quebra de paradigmas. Nunca votei nos meus amigos do tênis e, em nome da renova&¸ão, votei nos botinudos.
Aceitei por um curto prazo de tempo exercer funções no primeiro escalão do governo das botinas. Deixei o governo por posicionamento no campo de trabalho. Só por isso. Sem mágoas ou rancores.
Continuei tocando também a minha profissão de médico. Sempre tive profissão definida e residência conhecida. Oito anos são passados desses fatos superficialmente relatados e os botinudos não existem mais. Trocaram as pesadas botas por calçados italianos, tratores por BMW, casa no campo por mansões no Manso e em várias capitais brasileiras. Todos respiram o ar da rápida prosperidade.
Com a modernidade fala-se com a maior naturalidade em loteamento do poder. Voltamos à época das capitanias hereditárias. Cada grupo político toma conta de uma. Para que tudo funcionasse bem, houve a compreensão dos outros poderes, que muito ajudaram a estruturar o novo modelo de governo de quebra de paradigmas.
Os tratores não existem mais, após trabalharem até em fazendas fora de Mato Grosso. Os esclarecimentos sobre o valor das compras continuam. Agora estoura, ou torna-se do conhecimento público, por intermédio da operação Cartas Marcadas, o maior escândalo da história política de Mato Grosso.
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