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27 de Julho de 2015, 09h:53 - A | A

NACIONAL / LAVA JATO

Veja como Odebrecht foi do berço de ouro à cadeia comum

Conhecido como "príncipe das empreiteiras", Marcelo Odebrecht não se preparou para a cadeia

R7



Dos canteiros de obras às reuniões de executivos da construção civil ele é chamado de “príncipe das empreiteiras”. Nenhum outro apelido poderia resumir melhor a história de Marcelo Odebrecht. O empresário de 46 anos, presidente do grupo que leva o seu sobrenome, foi criado e educado para gerir um império.

Neto de Norberto Odebrecht, responsável por introduzir o concreto armado no Brasil, desde que nasceu Marcelo já teve o destino cravado pela família: ocupar o trono de um dos maiores grupos empresariais brasileiros, que hoje atua em mais de 20 países. Para herdar a coroa, ele passou pelas melhores escolas do país e do mundo. A sólida formação acadêmica é chancelada por um diploma de mestre do International Institute for management Development (IMD), em Lausanne, na Suíça.

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Além da educação, os Odebrecht não descuidaram da vivência prática de Marcelo nos negócios da família. Começou “por baixo”, comandando operários na construção de um edifício em Salvador, cidade onde nasceu. Depois assumiu as obras de uma hidrelétrica em Goiás e foi então para a Inglaterra acompanhar construção de plataformas de petróleo.

A chegada do príncipe à presidência da Odebrecht aconteceu em 2008, quando o projeto de “sucessão planejada” foi finalmente concluído pelo pai Emilio, que abriu o posto máximo da empresa ao filho. Foi a partir daí que Marcelo mostrou que todo o investimento apostado nele traria frutos.

Marcelo acelerou a Odebrecht no caminho da diversificação de negócios. Hoje a empresa atua em 15 áreas diferentes que passam pela Construção Civil, Defesa e Tecnologia, Incorporação Imobiliária, Gestão Ambiental, Produção de Combustíveis e talvez a mais importante: a atuação em Concessões e Licitações Públicas.

E foi justamente a relação com o poder público que trouxe o grande pesadelo do clã Odebrecht. Hoje o príncipe deixou um castelo construído em um dos condomínios mais seguros da América Latina no bairro do Morumbi em São Paulo, por uma cela no Complexo Médico Penal, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.

​Marcelo achava que nunca seria preso. Os investigadores da Operação Lava Jato descobriram no decorrer das investigações, que atingiam até então outras empreiteiras, que alguns executivos da Odebrecht já se queixavam ao chefe do medo da empresa entrar na mira dos delegados federais do Paraná. Marcelo, zeloso com os colaboradores, tentava tranquilizá-los e, por mais de uma vez, chegou a oferecer a própria casa para alguns dormirem alegando que lá ninguém seria importunado com um mandado de prisão ao raiar do dia.

A fortaleza do príncipe era tão bem vigiada que a Polícia Federal chegou a mobilizar até um helicóptero na última madrugada de 19 de junho quando ele foi preso em casa. O helicóptero não foi usado porque Marcelo não resistiu à prisão por suspeita de integrar cartel para fraude a licitações da Petrobrás, corrupção, lavagem de dinheiro e desvio de verbas públicas.

 

Mesmo preso, o herdeiro Odebrecht não se portava como um detento. Acostumado a dar ordens, logo ao entrar no avião da Polícia Federal com destino à carceragem em Curitiba ele queria sentar ao lado de Alexandrino Alencar, ex-diretor da Odebrecht que também foi preso, para se distrair conversando durante a viagem. Os policiais tiveram que explicar que todos ali estavam presos e iriam algemados nas mãos e nos pés e com um agente de cada lado – procedimento padrão para detidos no avião da PF.

Mas a viagem com algemas não parece ter sido suficiente para a “ficha” de Marcelo cair. Na carceragem ele continuava a fazer pedidos incompatíveis com a rotina dos detentos. A única “mordomia” autorizada pelo juiz Sergio Moro foi uma dieta especial porque o empreiteiro sofre com hipoglicemia, um distúrbio provocado pela baixa concentração de açúcar no sangue.

Os alimentos são selecionados e levados à prisão por um jovem advogado que foi incumbido pelo poderoso escritório de advocacia que cuida do caso a se dedicar especialmente ao cardápio de Odebrecht. Exigente, certa vez Marcelo ficou aborrecido porque uma caixa de uvas foi proibida de entrar na PF. O motivo: o advogado perdeu o horário regulamentado para entrega de sacolas aos presos.

Na prisão Marcelo escreve o tempo todo. Faz inúmeros bilhetes à família e aos advogados. Um desses criou polêmica. Os delegados entenderam que o papel cheio de códigos cunhados por Odebrecht tinham orientações de destruir provas. A defesa dele negou e chegou a pedir ajuda à OAB para garantir a privacidade cliente-advogado.

A postura do príncipe das empreiteiras despertou a antipatia dos carcereiros. Alguns comentam que se sentiram aliviados com a transferência dele ao presídio comum.

A força tarefa da operação Lava Jato continua investigando os contratos da Odebrecht. As investigações mostram que a empresa pagou pelo menos 300 milhões de reais em propinas para ex-diretores da Petrobrás e essa pode ser só a ponta do iceberg. A todo o momento se descobrem mais contas secretas no exterior e alguns países já abriram inquéritos contra a empreiteira, como por exemplo a Suíça.

Mas qual seria o papel de Marcelo Odebrecht nisso tudo? Os delegados do caso o descrevem como extremamente centralizador, por isso acreditam que ele supervisionava pessoalmente todas as ações da empreiteira da família, incluindo aí as negociatas e propinas.

Como se vê até aqui, os fatos mostram que um dos homens mais ricos do Brasil pode ficar um bom tempo atrás das grades.

Quem vai decidir se o príncipe pode continuar o reinando na dinastia Odebrecht é o juiz Sergio Moro, que tem se mostrando implacável com quem acumula fortunas às custas dos cofres públicos.

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