DO EXTRA
Desde domingo, Marli Ferreira Alves Francisco, 48 anos, não consegue pregar os olhos à noite. Foi neste dia que ela descobriu que sua filha, a travesti Verônica Alves, de 25 anos, tinha sido presa acusada de tentativa de homicídio, em São Paulo. Durante a prisão, ela se envolveu numa briga com os agentes carcerários e arrancou com a boca um pedaço da orelha de um deles. Desde então, a mãe não pôde entrar em contato com a filha para conhecer a sua versão do que aconteceu.
— Não tem nada de normal nessa história — disse Marli, que mora em Mococa, no interior de São Paulo. — Não consegui falar com ela até agora. Fui a São Paulo, mas não deixaram eu ver de jeito nenhum, nem no hospital, nem na delegacia.
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De acordo com o boletim de ocorrência, Verônica já tinha sido detida e estava sendo transferida quando se envolveu em “luta corporal” com o carcereiro cuja orelha foi ferida. Para intimidá-la, outro policial deu três tiros na direção da briga mas, segundo a polícia, ninguém foi atingido. Os agentes e a agressora foram levados ao Hospital das Clínicas, em São Paulo, e o caso foi registrado no 2º DP (Bom Retiro). Ela é acusada de evasão mediante violência contra a pessoa, lesão corporal de natureza grave e resistência à prisão.
terra
Verônica, após levar uma surra de PMs
Segundo a mãe, Verônica, que se prostituía, morava na capital paulista há um ano e, até então, vivia tranquilamente. Ela acredita que a polícia não deixou vê-la como retaliação pela agressão.
— Como foram muito covardes e machucaram muito ela, não quiseram me deixar vê-la. É muito triste para uma mãe uma coisa dessas — resumiu.
Em fotos que circulam nas redes sociais, é possível ver a travesti num pátio, sem camisa, com os seios expostos, a calça rasgada, cabelos raspados e o rosto desfigurado. Há também imagens do agente carcerário que foi vítima de agressão.
O agente carcerário foi agredido e teve um pedaço da orelha arrancado pela travesti
Posicionamento da polícia
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo afirmou que a Secretaria de Administração Penitenciária (Sap) é responsável pela detenta, mas não comentou as agressões sofridas por Verônica. Já a Sap explicou que os presos podem passar até 20 dias sob regime de observação. Durante esse período, eles não têm direito a ver sua família, apenas o defensor público. Segundo Marli, sua filha ainda não teve ninguém designado para fazer sua defesa.
Apoio nas redes
Nas redes sociais, grupos de apoio a travestis e transexuais tentam garantir que Verônica tenha acesso a uma defesa justa e que não seja vítima de violência sexual. Uma página chamada Somos todas Verônica foi criada no Facebook para apoiá-la.
A travesti durante a prisão, ja na casa de detenção