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Cuiabá, 06 de Maio de 2024
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16 de Maio de 2018, 07h:55 - A | A

OPINIÃO / ROBERTO DE BARROS FREIRE

Ocupar ou usurpar, eis a questão!

Professores, estudantes, servidores privatizam a universidade quando deliberam pelas greves e ocupações



Professores, estudantes, servidores privatizam a universidade quando deliberam pelas greves e ocupações; decidem que estão acima da sociedade civil e que podem instrumentalizar a universidade para defenderem seus interesses privados.

Não percebem que a universidade não lhes pertence, mas sim à sociedade civil. Se autointitulam senhores das universidades, que podem se utilizar de meios públicos para defenderem seus interesses pessoais e privados.

E ainda que a intenção seja medir forças com os governantes, os governantes simplesmente ignoram professores, estudantes e servidores, que sem força política, sem apoio social ou popular, se autoimplode antes que se precise desperdiçar gás lacrimogêneo com os mesmos.

Os únicos incomodados são as famílias dos estudantes, a sociedade civil que depende de atividades acadêmicas, a maioria dos professores e estudantes que não querem esse movimento, mas são forçados a aderir, ou pelo menos não se contrapor, para não sofrerem ameaças.

É triste ver como as pessoas pouco pensam e se arvoram o direito de deliberar sobre tudo para todos. Só eles sabem o que é o certo e o justo, e quem não concorda com eles é “antidemocrático”. Crítica rasa e superficial, incapaz de aceitar as diferenças de pensamento.

Como não conseguem convencer ninguém, senão os já convencidos, querem impor aos demais suas idiossincrasias, e assim, evitando qualquer debate ou conversação, decretam tiranicamente que só entra nos prédios ocupados para discursar quem referenda suas posições, e vão deixando sua mensagem pequena, sua atuação política medíocre, que quer apenas prejudicar o governo e prejudica fundamentalmente a sociedade civil: o governo nem vê, nem sente as ocupações. Já a sociedade fica profundamente incomodada.

Naturalmente, podem-se supor boas intenções por trás das lutas dos estudantes, professores e servidores, o que não acredito, mas a forma é injusta, tirânica, autoritária, e o errado está antes na forma do que no conteúdo. Hitler também quis salvar o mundo, e deu no que deu.

Ainda que possam achar que estão defendo o interesse de uma coletividade, dos excluídos, dos pobres, enfim, dos que mais precisam, o fato é que não respeitam os direitos individuais de todos, ricos ou pobres, excluídos ou incluídos, dos que mais precisam e dos que menos precisam, até deles próprios. Agir com violência e força ainda que supostamente em nome de uma vontade coletiva, não visa à constituição do bem comum, mas a imposição de uma visão sobre as demais.

Avessos aos debates, a política no meio acadêmico se caracteriza pelo uso da força e da violência, querendo chamar a atenção da sociedade pelo prejuízo que lhe causa, e obrigando a maioria a se submeter a uma minoria ativa que monopoliza as instâncias deliberativas.

Ao invés da forma pacífica e democrática do debate de ideais e convencimento, sem paciência, tolerância, respeito, está-se sempre a deliberar por uma nova greve ou ocupação – única forma de prática política que conhecem. Em assembleias pouco representativas, meia dúzia de gatos pingados delibera sobre todos, sem colocarem em referendo suas deliberações. Forçam a todos às suas decisões reacionárias.

A Universidade é um bem público e, como tal, não pode simplesmente ser "ocupada".  Ocorre uma privatização do bem público – quando alguns estudantes “administrando” esse espaço comum, onde todo cidadão pode frequentar normalmente, torna-o privado, permitindo apenas a aqueles que eles determinam sua livre frequentação.

Rigorosamente, a universidade está vazia de estudantes e professores, servindo apenas alguns poucos estudantes atuantes diante de tantos omissos, estudantes, mas principalmente professores.

A universidade não pertence nem aos professores, nem aos funcionários, nem aos estudantes, mas à sociedade civil, e nenhuma dessas categorias pode deliberar unilateralmente sobre ela, sem consultar a própria sociedade civil, da qual esses entes são pequenos setores sociais, aliás, privilegiados diante dos demais.

ROBERTO DE BARROS FREIRE é professor do Departamento de Filosofia da UFMT

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