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11 de Agosto de 2013, 09h:42 - A | A

VARIEDADES / CRÍTICA

'jOBS' exalta inteligência do fundador da Apple, mas é superficial

Filme se explica em excesso ao mostrar trajetória conturbada da empresa. Com Ashton Kutcher no papel principal, produção estreia em 6 de setembro

GLOBO.COM



O primeiro rosto a efetivamente tomar a tela em “jOBS”, a cinebiografia do criador da Apple, não é o do protagonista, interpretado por um Ashton Kutcher apenas esforçado – alguém deveria avisá-lo que interpretação difere de imitação. O rosto inicial é o de Albert Einstein. Ele surge num retrato gigante pendurado numa parede qualquer da empresa. Equiparar o pai da teoria da relatividade ao pai do iPod diz muito sobre as intenções do filme, que, embora se conforme com a mediocridade, não exige esforço do espectador para permanecer até o desfecho. Está previsto para estrear em 6 de setembro no Brasil.

 

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Essa escolha por colocar o cientista em destaque revela que estamos aqui no terreno da comparação – e da exaltação – óbvia. Mas isso era algo esperado. A produção investe e confia na inteligência e nas capacidades de Steve Jobs (1955-2011). Só não precisava desconfiar tanto do senso de percepção do público. Na prática, significa que o “jOBS” se explica em excesso em passagens que já estavam mais do que claras. E que se omite naquelas que eventualmente renderiam dúvidas à audiência.

 

Um exemplo do primeiro caso. O jovem Steve Jobs, em fase anterior à fundação da Apple, trabalha na companhia de games Atari e está irritado com um colega. O protagonista grita, faz escândalo. A situação dava e sobrava para esclarecer o quão mimado ele era capaz de ser. Mas então “jOBS” é tomado por um surto de redundância, e surge um terceiro personagem: “Jobs, você não sabe trabalhar em equipe”. Quanta perspicácia.

 

Também na juventude, agora já nos tempos iniciais da Apple, a namorada de Jobs vem lhe dizer que está grávida. O rapaz argumenta que não tem tempo, que talvez a criança nem dele seja. É uma boa e reveladora passagem dramática. Muitas cenas adiante, lá está Jobs, casado com outra e rico, mas recebendo a visita daquela filha que ele havia negligenciado – e nem uma palavra sobre como se deu a reaproximação.

 

Começo em 2001

 

Quando “jOBS” começa, estamos em 2001, num evento em que o personagem vai apresentar o iPod. Ashton Kutcher caminha por um palco e faz mesmo lembrar o Steve Jobs original: a imagem está embaçada, mas é possível ver que o ator usa a roupa que celebrizou o protagonista – jeans, tênis, camiseta preta de gola alta etc.

 

Kutcher até anda do jeito que Jobs andava, mas é estranho, precisamente porque soa como cópia, e não como trabalho de atuação. Antes que Kutcher possa dizer “You’ve just been Punk’d!” – como ele fazia no programa de pegadinhas que apresentou durante anos –, há um salto temporal e a história volta ao princípio dos anos 1970. Jobs é um aluno rebelde da faculdade, inconformado, brilhante e admirável.

 

Deve ter sido um alívio para o ator, enfim autorizado a ser galã. Curiosamente, no entanto, o desempenho melhora, convence. O que não melhora é o filme como um todo. Numa rápida sequência que serve quase como prólogo, Jobs seduz uma garota, toma ácido com a namorada e um amigo, vai para Índia, parece “descobrir” a si mesmo e fica meio disperso, uma mudança (além da geográfica) parece estar em curso. Qual? “jOBS” não parece se interessar tanto por isso. Ou não mais do que em propor um fundo musical que “prenda” a atenção.

 

O que importa é trazer Steve Jobs logo de volta aos Estados Unidos, para ele dar os passos inaugurais de uma trajetória visionária, inventando na garagem da casa dos pais o computador pessoal, o que fez ao lado do parceiro Steve Wozniak (Josh Gad). O filme apresenta em detalhes divertidos esse processo.

 

A história da revolução tecnológica é relativamente conhecida. Entre o final dos anos 1970 e o meio dos anos 1980, o protagonista supera a desconfiança de todos e constrói a Apple. Só é injusto dizer que ele se fez do zero porque tudo se sustentava sobre uma autoconfiança incomparável e um trabalho obsessivo. Mas a ambição de Jobs era exagerada, assim como o perfeccionismo. Encantado pela própria inteligência, acabou expulso da própria empresa em 1985.

 

Sem tempo para Pixar

 

“jOBS” pouco ou nada investe neste período. A Pixar, que ele “comprou” em 1986, sequer é mencionada. O nome de Bill Gates aparece uma única vez, numa cena em que Kutcher briga ao telefone e vai bastante bem. Um defeito imediato deste “vazio” provocado pelo avanço da trama são lacunas como a reconciliação com a filha mais velha. Outro é a própria figura do Jobs mais velho, com Kutcher afetado de novo.

 

Steve Jobs tem pretensão que o faz ser revolucionário. É algo que falta ao diretor, Joshua Michael Stern, com dois longas no currículo (“O segredo de neverwas” e “Promessas de um cara de pau”, com Kevin Costner). Seu “jOBS” parece superficial. Personagens secundários são tratados de modo banal.

 

Já o protagonista tem imperfeições observadas, apesar do tom elogioso do filme. Quem quiser poderá percebê-lo também como apaixonado por si mesmo, egoísta, vingativo e negligente – "jOBS" segue, com menos êxito, os passos de "A rede social". A história do Facebook foi (bem) contada com vários personagens, vozes e conflitos. Valia a tela grande, as indicações ao Oscar. "jOBS" não chega a tanto, vê-lo na tela do iPad é mais do que o suficiente.

 

 

O ator americano Ashton Kutcher como Steve Jobs, em imagem oficial do filme 'Jobs' (Foto: Divulgação)

 

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