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Cuiabá, 13 de Maio de 2024
13 de Maio de 2024

30 de Setembro de 2010, 11h:25 - A | A

POLÍCIA /

Promotor pede condenação e diz que ex-segurança é psicopata



da redação

O julgamento dos quatro ex-seguranças acusados de espancar até a morte o ambulante Reginaldo Donnan Queiroz, dentro do Goiabeiras Shopping Center, em Cuiabá, termina nesta quinta-feira (30). Após as 16 testemunhas e os réus serem ouvidos, na segunda e terça-feiras, hoje é o dia reservado para os debates entre acusação e advogados de defesa e para o veredito.

Para o promotor João Augusto Gadelha, há três certezas: "Não houve suicídio, a pessoa (Reginaldo) entrou andando, foi carregada até a sala da guarda, que era exclusiva a torturas, e de lá saiu praticamente desfalecido e morreu".

Gadelha disse ainda que ficou comprovado, apesar da insistência do Jefferson Medeiros, que não houve queda que provocasse traumatismo craniano. "E outra certeza é que todo homicídio é precedido de uma lesão corporal, um objeto contunde, um tiro ou uma faca", disse.

Para o promotor, o ex-segurança Medeiros, principal acusado, é dissimulado, instruído e extremamente irritadiço. Gadelha definiu o réu como "psicopata", falou da frieza e inteligência do réu e do poder de sedução, algumas das características próprias dos psicopatas. "Ele acredita na mentira dele", afirmou.

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Para os ex-seguranças Jefferson Medeiros e Ednaldo Belo o promotor João Augusto Gadelha mantém os pedidos de condenação por homicídio qualificado.

Veja as acusações contra cada um:

Jefferson Medeiros – Homicídio triplamente qualificado (torpeza, crueldade, impossibilidade de defesa), denunciação caluniosa, fraude processual.

Ednaldo Belo – homicídio duplamente qualificado (meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima), fraude processual e denunciação caluniosa.

“Foram os 2 que mataram”, diz o promotor.

 

Depoimentos

Jefferson Medeiros

No interrogatório mais longo do dia (mais de três horas de duração), o ex-segurança Jefferson Luiz Lima Medeiros, de 25 anos, mudou a versão apresentada sobre os fatos que culminaram na morte de Reginaldo Donnan. Ele insinuou que se algo aconteceu pode ter sido no momento em que Ednaldo Belo estava sozinho com a vítima. Ele ainda disse que havia, sim, gravações da escada, mas que desapareceram.

Ele foi o segundo réu a depor. Também afirmou que a tese de que Reginaldo tentou atingir ele e Ednaldo com o estilete é falsa, segundo o réu Belo, que a teria inventado. "Eu menti por amizade", declarou Medeiros. O segurança pontuou que utilizou de "energia" com Reginaldo, mas não o agrediu fisicamente ou o xingou.

Ele se manteve tranquilo durante toda a narrativa, chorando duas vezes em momentos que falou sobre a família. Ele repetiu em diversas ocasiões o quanto foi dura a perda de sua mãe com câncer. Jefferson iniciou sua declaração dizendo aos jurados que não deixem se levar pela mídia. Em diversos momentos ele alegou que a mídia tinha o poder de manipular as pessoas e por isso toda a exposição do caso. Quando questionado sobre o transporte de Reginaldo em um contêiner, disse que não jogou sacos de lixo em cima da vítima.

Os sacos plásticos (iguais aos que carregam lixo) estavam na verdade embalando os produtos de Donnan. "Parece que a imagem tornou mais monstruoso do que realmente é. A imagem não é o que é", argumentou, sobre as imagens do circuito interno.

À família de Reginaldo ele disse que todos os dias ora por ela, que coloca o seu juízo no chão e pede que Deus o dê uma nova oportunidade de vida. "Que Deus tire a mágoa dessa família. Peço a misericórdia de Deus para que isso ocorra de forma justa", e concluiu pedindo perdão à mãe da vítima. Ainda durante os questionamentos da acusação, Jefferson tentou desqualificar a testemunha Hailton (que disse que viu quando o réu chutou a vítima) dizendo que ele responde a processo por roubo. O promotor rebateu informando que sabe disso e que o irmão de Medeiros também responderia a processo.

Valdenor de Moraes

O ex-segurança Valdenor de Moraes foi o terceiro a ser interrogado. Ele mudou seu depoimento pela quinta vez. Ele contradisse Jefferson Medeiros e afirmou que em nenhum momento Ednaldo Belo ficou a sós com Reginaldo Donnan na sala de segurança. Ele afirmou que viu e ouviu Medeiros agredindo a vítima, chegou a pedir que parasse, mas foi ignorado.

O réu expôs que a cabeça da vítima batia como tabela. Moraes também esclareceu que foi atrás de Reginaldo fora do shopping por ordem de Medeiros. Ainda disse que foi Medeiros que solicitou via rádio que a equipe de limpeza levasse o contêiner. Informou que havia, sim, uma cadeira de rodas na sala de segurança e viu quando Belo e Medeiros limparam o sangue no nariz de Reginaldo com uma fralda. O acusado afirmou estar arrependido por ter batido na mão da vítima e derrubado seu celular. Em 14 anos de trabalho no Goiabeiras Shopping, ele nunca havia presenciado cena semelhante ao ocorrido no dia 29 de agosto de 2009. Contou que após ligar para o Ciosp por livre e espontânea vontade, o telefone tocou e ele repassou ao supervisor-geral Mateus o que estava acontecendo no estabelecimento.

Em seguida ligou para a plantonista. Ele contradisse a versão de Jefferson, que havia dito em seu depoimento que tinha ligado para Mateus. "Hoje estou contando a verdade. Na delegacia falei a verdade, e não fui coagido. Mas quando meus colegas [demais réus] disseram que iam contar a versão do B.O. na audiência eu resolvi fazer o mesmo. Estava com medo do que poderia acontecer com alcaguetes na prisão. Quando cheguei no presídio chorei de arrependimento. Agora falo a verdade e estou com a consciência tranquila", argumentou.

Ednaldo Rodrigues Belo

Ednaldo Rodrigues Belo abriu a sessão de interrogatórios na manhã de ontem. Assim como sua defesa havia anunciado, o réu assumiu que agrediu
Reginaldo Donnan e acusou Jefferson Medeiros de ter chutado a cabeça da vítima por diversas vezes. A ideia do contêiner teria sido de Medeiros, assim como a do registro de boletim de ocorrência falso. Os advogados do Goiabeiras Shopping também teriam orientado os acusados a manterem a versão do B.O., mesmo sabendo a verdade.

Por duas vezes o acusado interrompeu o depoimento em forte choro. Ele dizia-se arrependido por mentir e por mais de três vezes disse que "caiu no conto do vigário" quando acreditou em Medeiros e na administração do Goiabeiras. Belo afirmou que o advogado do shopping chutava seu pé na delegacia para que não dissesse nada além do combinado, sendo que os representantes jurídicos do estabelecimento comercial deixaram de representá-los a partir do momento que eles disseram a verdade na delegacia, alegou Belo.

Houve uma reunião entre os representantes jurídicos do Goiabeiras e os seguranças. A intenção é que se mantivesse a primeira versão. Jefferson disse que não ia dar em nada. Belo informou que Medeiros disse para Jorge que assumiria qualquer problema que aparecesse. Que iria inclusive apagar as imagens, mas o interrogado sabia que isso era impossível. A filmagem de Reginaldo dentro do camburão da Polícia Militar foi feita, segundo o réu, com objetivo de mostrar que a vítima chegou viva ao hospital.

Ednaldo ainda expôs que embora a vítima tenha se debatido e caído na escada, ela não sangrou. "Se tivesse sangrado minha roupa teria sujado, e isso não ocorreu", pontua. Ele relembra que

Jefferson chutava a face de Reginaldo e que embora estivesse desencostado da parede, o impacto o jogava para trás e batia a cabeça. Belo informou que em nenhum momento ficou sozinho com a vítima.

Jorge Dourado Nery

O último interrogatório do dia veio para corroborar com a acusação contra
Jefferson Luiz Lima Medeiros. O acusado Jorge Dourado Nery afirma que ficou na porta da sala de segurança à espera da chegada da polícia. Ouviu barulhos como se estivesse batendo em um balcão ou algo do tipo. Ainda ouviu xingamentos entre Reginaldo Donnan e Medeiros. Jefferson teria tentado apagar imagens das câmeras de segurança, mas não conseguiu.

Jorge ajudou a carregar Reginaldo até a sala de segurança. Chegando ao local, colocaram a vítima de lado, escorado na porta. O interrogado viu quando Belo deu dois "escorões" com o pé pedindo para Donnan se levantar. Nery e o outro rapaz que ajudou a carregar a vítima ficaram olhando na porta. Neste momento, Medeiros mandou arrogância que saíssem.Ele acatou.

Disse ainda que estava em período de experiência e por isso sua submissão às ordens de seus superiores Medeiros e Belo. O réu afirma que viu Reginaldo ferido somente quando abriu a porta para entrar com o contêiner.

Havia sangue na roupa e nariz dele, e a sala estava suja com sangue. Jorge chegou a questionar o que aconteceu e Belo disse que o rapaz teria tentado contra a vida de Medeiros. Valdenor estava na sala de monitoramento. Ele estava abalado e contou que Jefferson teria agredido Reginaldo porque ele o havia irritado durante a tarde. Belo depois também afirmou isso. Ele estava constrangido. Belo afirmou a Jorge que contaria a verdade para o supervisor Matheus.

Quando Nery informou a Jefferson que sabia da verdade, o mesmo disse que iria se responsabilizar por tudo e que apagaria as imagens, mas não conseguiu porque para isso necessitava de senha. Disse ainda que no primeiro interrogatório na delegacia advogados do shopping chutavam sua perna quando acreditavam que ele estava dizendo mais do que deveria. Essa intervenção ocorreu quando ele iria contar que escutou Reginaldo pedindo para que o deixassem sair dali.

Com informações de A Gazeta e Folha do Estado

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