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Cuiabá, 13 de Maio de 2024
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21 de Setembro de 2017, 14h:05 - A | A

VARIEDADES / "CURA GAY"

Estupro corretivo em lésbicas é usado em clínicas da América do Sul

A maioria dessas unidades, ditas terapêuticas, é ligada a igrejas cristãs. No Brasil, o Ministério Público Federal investiga indícios de processo similar em pelo menos seis centros.

METRÓPOLES



 

Clínicas de reabilitação de dependentes químicos e alcoolismo de países sul-americanos, como Equador e Peru, recebem comprovadamente pacientes gays, lésbicas e trans para tratamento de reversão sexual ou cura gay. A maioria dessas unidades, ditas terapêuticas, é ligada a igrejas cristãs. No Brasil, o Ministério Público Federal investiga indícios de processo similar em pelo menos seis centros.

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Em 2011, autoridades fecharam 30 clínicas que ilegalmente tratavam de gays, lésbicas e trans. Os relatos eram chocantes. Torturas e abusos de toda ordem. Uma das práticas usadas em mulheres lésbicas era o chocante estupro corretivo. Funcionários dessas clínicas cristãs violentavam internas para que pudessem sentir o “verdadeiro e genuíno prazer sexual de uma prática abençoada por Deus”.

A fotógrafa equatoriana Paola Paredes, lésbica assumida, sentiu na pele esse risco e resolveu investigar o que acontecia nas chamadas “clínicas de Cristo”. O resultado é o ensaio fotográfico “Até Que Você Mude”, uma alusão à capacidade de resistência e, posterior, libertação da interna.

Paola Paredes constatou todas as denúncias quatro anos depois desse escândalo e encenou as situações descritas pelas mulheres lésbicas internadas por pais religiosos. Um dos momentos mais chocantes presenciados por Paloma foi presenciar mulheres sendo obrigadas a se maquiar, a usar roupas femininas e desfilar de salto alto em atos de humilhação e escárnio.

A perversão dos medicamentos e livros religiosos, o regime forçado da feminilidade, tortura e o espectro do estupro corretivo" disse

Como não podia entrar com câmera nas clínicas, Paloma reproduziu as cenas em fotos nas quais ela protagoniza as chocantes situações, colocando-se no lugar das mulheres violadas. Há relatos de tortura física, lavagem cerebral por meio de orações e toda ordem de maus tratos.

Algumas das mais extremas dessas práticas incluíam o uso de restrições de toda ordem, tranquilizantes, espancamentos, retenção de alimentos e outras formas de tratamento humilhante. A maioria dos pacientes é sequestrada e drogada contra a vontade por sua própria família"

No Peru, há um índice assustador de estupro corretivo, consumado nas próprias casas, em clínicas ou em locais de trabalho. Os dados estão no “Anual Sobre os Direitos Humanos de Pessoas Transexuais, Lésbicas, Gays e Bissexuais no Peru 2014-2015”. Um dos casos mais chocantes foi de uma jornalista lésbica estuprada por homens durante um encontro de comunicadores. O crime levou à gravidez.

Outro estudo, “Estado de Violência: Diagnóstico da Situação das Pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Intersexuais e Queer na Lima Metropolitana”, levantou números alarmantes: de cada dez lésbicas, cerca de 4,3 foram submetidas de algum tipo de violência em família, sendo que 22% da violência familiar ocorre de forma sistemática; Para corrigir sua homossexualidade, “são usados o controle emocional, econômico e inclusive a ameaça de violência sexual ou morte”.

No Brasil, corre em sigilo no Ministério Público investigação que apura indícios de que seis instituições similares a do Equador tratam clandestinamente de homossexuais. São ligadas a igrejas cristãs em estados como Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco e Sergipe. Num dos relatos, um jovem de 21 anos, atleta e jogador de futebol, foi sequestrado por enfermeiros, em Belo Horizonte, enquanto dormia em casa e levado a uma clínica de reabilitação de drogas a pedido da mãe evangélica. Ficou dois meses internado.

O ensaio de Paola Paredes acende o risco de concessões como a que aconteceu nesta semana no Brasil, na qual a Justiça Federal do DF permite que psicólogos possam tratar quem quiser “voluntariamente”. A medida é movida por os chamados “Psicólogos de Cristo”, alguns com registros já cassados pelo Conselho Federal de Psicologia.

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