O Sol foi amado como um “Rei”, durantes séculos. Nos primeiros anos do século passado descobriu-se que conseguia reverter quadros de raquitismo e passou a ser considerado como opção de tratamento (helioterapia). Durante quase todo o século passado o “banho de sol” passou a ser uma atividade terapêutica e estética.
Todas as moças queriam ter um “corpo dourado do sol de Ipanema”. O Brasil era um país moreno. Há muitos anos a ciência já havia mostrado que os raios ultravioletas B do sol quando penetram na pele transforma o precursor da vitamina D na sua forma ativa (D3); que a exposição da pele ao sol é a principal fonte de vitamina D.
Há muitos anos já se conheciam os efeitos benéficos da Vitamina D sobre a estrutura óssea. Crianças sem vitamina D serão crianças sem cálcio e, consequentemente, raquíticas; adolescentes sem vitamina D serão adultos com osteoporose e consequentemente com fragilidade óssea e fraturas.
“O sol dá câncer de pele”. Esta foi e tem sido a frase aterrorizadora que faz com que a maior parte das pessoas passe a usar proteção contra seus raios. “Vamos salvar as nossas crianças!”. “Cubram as quadras esportivas”, “cubram as piscinas”; “não deixe ninguém sair de casa sem protetor solar”. As moças já não queriam o corpo dourado. Ficaram pálidas e passaram a pintar o cabelo. Viramos um país de “loiras”.
Porém, o tempo passou e alguns estudos, já neste século, começaram a pôr em dúvida a afirmação categórica da culpa do sol em todas as situações e em todas as pessoas.
Mostraram que, embora o sol seja um fator de risco para o câncer de pele, o melanoma (o câncer de pele que pode levar à morte) ocorre em pessoas com predisposição genética, principalmente em pessoas com pele muito clara. Que os cânceres mais benignos (basocelular e de células escamosas) são também mais frequentes em peles claras com exposição crônica e repetidas queimaduras solares. Também neste século estudos chamaram a atenção para a deficiência de vitamina D.
No Brasil, alguns estudos mostraram um alto grau de deficiência em várias cidades: São Paulo com taxas de até 96%; Curitiba, 90,6%; Rio de janeiro 67%; Belo Horizonte, 42%; Recife com 66%; João Pessoa com 33%. Recentes revisões sistemáticas mostraram que pessoas com deficiência de vitamina D têm maior índice de mortalidade, que pessoas idosas com níveis normais de vitamina D têm menor índice de quedas; assim com o benefício da vitamina D na diminuição de resfriados.
Atualmente, nesses tempos de COVID-19, foram publicados estudos mostrando benefícios da Vitamina D na recuperação dos pacientes. Esses fatos – déficits de vitamina D e benefícios da suplementação de vitamina D - talvez sejam os causadores do aumento exponencial da prescrição de vitamina D que vem ocorrendo nos últimos tempos. Grande parte da população (desde crianças a idosos) passou a tomar a vitamina D por via oral. Isto é, grande parte da população está comprando vitamina D. Se sabemos que a principal fonte de síntese da vitamina D é o sol, por que estão comprando quando basta sair ao sol??
A resposta está no excessivo medo sobre a possiblidade de o sol provocar câncer. Acredito que as Sociedades médicas e mesmo a OMS, diante das novas evidências, poderão, em pouco tempo, mudar a recomendação de que nenhum sol deve ser permitido para algum sol deve ser permitido. Então, qual deve ser a dose de radiação considerada segura para a síntese de vitamina D sem que provoque queimadura? O tempo de exposição depende do tipo da pele, assim, quanto mais escura for a tonalidade, menor será a penetração e menor a formação da vitamina. Quanto mais clara, maior a penetração e menor deverá ser o tempo de exposição. Algumas pesquisas mostram que basta cerca de 10 a 20 minutos de exposição solar para um nível adequado de vitamina D.
Embora o sol seja realmente é um fator de risco (principalmente quando causa queimaduras), a sua falta é outro sério fator de risco especialmente para crianças e adolescentes. O volume de novas pesquisas já vem provocando discussões e novos direcionamentos em relação à exposição solar, vitamina D e câncer. Todavia, fica claro, que a reposição pela exposição solar é a mais fácil e a mais barata.
A minha recomendação é: o Sol faz bem, porém use com moderação.
Valfredo da Mota Menezes é médico, doutor em Medicina Interna e Terapêutica, professor da Faculdade de Medicina (UFMT).