ONOFRE RIBEIRO
Participei do Encontro da Indústria para a Sustentabilidade, promovido pela Confederação Nacional da Indústria CNI, na semana passada, no Rio de Janeiro, como um dos eventos da conferência Rio+20. Contudo, talvez a maior importância de tudo o que presenciei, foi uma palestra do conferencista Eliezer Batista, um estrategista do desenvolvimento brasileiro, hoje com 88 anos e com uma memória de Brasil absolutamente invejável. Hoje, é mais conhecido por ser o pai do legendário megaempresário Eike Batista.
Eliezer narrou algumas experiências que teve como presidente da Cia. Vale do Rio Doce, na década de 80, época em que a empresa abriu grandes projetos como Carajás. Aqui reside a parte da sua narrativa, ligada à questão que hoje chamamos de sustentabilidade. O projeto de mineração de ferro de Carajás, segundo Batista, previu a grande invasão de gente no seu entorno, e a possibilidade de se criar ali favelas irreversíveis. Para isso, pensou-se junto do projeto, em uma cidade que servisse de abrigo para os operários que certamente permaneceriam, e para os demais atraídos pelos negócios.
Essa cidade serviria de modelo para se expandir depois, mas partindo de um núcleo organizado capaz de servir de matriz. A visão, lembrou Eliezer, é que todos os grandes projetos de desenvolvimento dos anos 60, 70 e 80 no Brasil, nunca privilegiaram mais do que a obra em si. Brasília é um exemplo. Os núcleos de trabalhadores que mais tarde viraram cidades satélites se organizaram em favelas e só mais tarde em núcleos organizados, mas obedecendo à lógica do acaso e do arranjo, condenados a serem núcleos urbanos de segunda linha.
Após Eliezer, sua mulher, Ingmarloren Scheumann, fez uma explanação muito rica, seguindo a linha de que a sustentabilidade é mais do que o tradicional equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, a inclusão social e a conservação do meio ambiente. A isso ela chamou de gestão integrada do território. Nada disso faz sentido, disse ela, sem agregar o fator cultural. Em Mato Grosso isso foi muito evidente nos anos 70 em diante com a migração intensa vinda de outros estados e os grandes projetos de colonização. Não se pensou no aproveitamento da cultura local, dos valores, das experiências, da alma e da história dos antigos moradores.
Cuiabá foi um exemplo. A migração chegou, detonou com a arquitetura tradicional, que era histórica e vivenciava a relação cultural com o clima quente. As casas com pé direito alto foram “condenadas” pela nova arquitetura e os primeiros edifícios residenciais foram e ainda são um desastre. Hoje a inovação do ar condicionado salva os moradores e esconde o fiasco dos primeiros arquitetos que jogaram no lixo mais de dois séculos de vivência no trópico quente.
Qualquer projeto econômico antigo e atual, se não levar em conta que no entorno viverão pessoas já existentes e outras que virão, não será sustentável pelo simples fato de que não considera as pessoas. No fundo, elas são a razão de tudo. É para elas que a sustentabilidade faz sentido!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso