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Cuiabá, 26 de Abril de 2024
26 de Abril de 2024

10 de Maio de 2012, 08h:21 - A | A

OPINIÃO / GUILHERME MALUF

Por um trânsito cidadão!

GUILHERME MALUF



Disse, certa feita, o poeta e filósofo Horácio que “A adversidade tem o efeito de despertar talentos que em condições prósperas teriam continuado adormecidos.” A Cuiabá dos anos 70 transformou-se de cidade pacata, de poucos carros e quase nenhum ônibus em um aglomerado urbano que possui 310.868 veículos motorizados, sem contar os 113.990 veículos de Várzea Grande. Uma frota de 424.858 veículos, sendo que desse total temos 78.096 motos na capital e mais 38.835 na terra do saudoso Nhonhô Tamarineiro, totalizando 116.931 motos. Essas duas cidades, hoje, são uma só e somam uma população de mais 900.000 habitantes. E o que não faltam são acidentes de trânsito. Vidas ceifadas todos os dias: mães enterrando filhos; irmãos sepultando irmãos; funerais não apenas de pessoas, mas de sonhos que jamais serão realidades. A única e dura realidade é uma só: nosso trânsito mata e muito.


Afirmei, recentemente, um jornal diário da capital que o prefeito tem que, primeiramente, saber cuidar de nossa gente. Mas pra isso, necessita saber da cidade e suas nuanças, conhecê-la como a palma da mão, esquadrinhá-la em seu todo, vê-la por inteiro e, acima de tudo, sentir o que vai na alma de sua gente. Alguns poderão dizer (e até já o disseram) que não precisamos de poetas e nem sonhadores; discordo de tudo o que disseram e deles todos. Precisamos tanto dos poetas porque sentem a realidade, quanto dos técnicos que pensam essa mesma realidade; necessitamos dos sonhadores que enxergam a realidade amanhã, quanto dos especialistas que transformam sonhos em realidade. Se unirmos esses vieses poderemos ter um trânsito mais cidadão e uma mobilidade urbana que privilegie o ser humano.


Entretanto, passemos aos números: em 2005, só o Pronto-Socorro atendeu 2.663 acidentados de moto contra 896 em carros, 720 pedestres e 788 ciclistas. Ora, dos 5.167 acidentes de trânsito, mais de 50% foi com pessoas usados motos. Em 2007, esse número foi para 8.311, sendo 4.979 acidentes envolvendo usuários de moto, 59% do total. Então vejamos, de 2005 para 2007 os acidentes cresceram 60,8% e os de moto saltaram para 86,9%. Podemos explicar esses números e esses percentuais usando vários argumentos, dentre eles o aumento expressivo de motos; ou poderíamos dizer que a frota aumentou em sua totalidade; ou também que há um excesso de veículos para uma malha viária estagnada e ultrapassada; ou uma sinalização vertical e horizontal insuficiente e falha. Todos são argumentos válidos e se somam; porém, não são os únicos e nem os mais importantes. Em minha opinião, dois são os fatores determinantes para esses números absurdos em nosso trânsito: o baixíssimo investimento em educação no trânsito e um transporte coletivo caro e de péssima qualidade.


Tenho convicção que se houvesse investimento maior em nossas crianças e adolescentes em uma formação para um trânsito cidadão (Cidade do trânsito, gincanas escolares sobre trânsito, palestras educativas, site de atividades educativas de caráter lúdico etc.), poderíamos diminuir e muito esses acidentes, ou se tivéssemos um transporte coletivo digno (toda a frota com ar-condicionado, horários regulares e diversificados, preços compatíveis com tamanho da nossa cidade, todos os passageiros sentados etc.) que atraísse mais usuários por tantas e diversas razões, creio que o número de acidentes cairia drasticamente.


Usei apenas o exemplo das motos porque hoje a frota das duas rodas motorizadas representa 20% da frota total; em 1980, essa categoria representava apenas 3% dos veículos. Esse crescimento vertiginoso pode estar relacionado a fatores como a disparada dos preços dos combustíveis e à maior mobilidade. Contudo isso importa pouco; a realidade é que o nosso país, desde a década de 50 do século passado, privilegiou o transporte “individual” em detrimento do transporte coletivo. Agora temos o caos, a imobilidade, os acidentes e as mortes inaceitáveis. A verdade é que precisamos com urgência repensarmos as políticas públicas de mobilidade urbana, se não o que parece, hoje, insuportável, pode ficar ainda pior...


*Guilherme Maluf é médico, deputado estadual e presidente do PSDB de Cuiabá.

A redação do RepórterMT não se responsabiliza pelos artigos e conceitos assinados, aos quais representam a opinião pessoal do autor.

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