JORGE MACIEL
Tenho filhos, netos e amigos jovens e de todas as idades, e fico me pego imaginado-os como patinhos enfileirados que rolam na esteira à espera de tiros de ar comprimidos nos parques de diversões. O STF, associado ao Senado Federal, são poderes extremamente acacianos cujos membros têm demonstrado estarem alheios às demandas jurídicas e aos necessários aperfeiçoamento das leis e sua aplicabilidade para o bem do seu povo, da nação. Poderes que aí estão, pagos e bem pagos, apenas para proteger malandros, criminosos, mafiosos e canalhas federais do mais elevado escalão. Senadores e ministros do STF, em cínico alvitre, que se julgam, com a mais plena imbecilidade e vanglória, imunes às armadilhas de maus elementos que surgem aos borbotões, paridos pela impunidade. É que os filhos de membros das cortes e dos parlamentos, em enorme fatia, nem mesmo moram por aqui, surfam no Hawaí, passeam nos “boulevard’s” parienses, festejam em points europeus ou norte-americanos, fazem cursos em encantadores países de primeiro mundo, onde o crime é considerado uma afronta ao bem estar coletivo nacional. E as punições são isonômicas e severas.
Mas a permissividade, aliada à impunidade e à falta de sentimento patriótico ou nacionalista, à falta de comprometimento com o que quê seria um país de leis firmes para o bem geral da nação, não vem de hoje. O termo para “inglês ver” por exemplo surge a partir da abolição da escravatura. O Brasil insistia em fazer parte do comércio escravagista negreiro quando sofreu a pressão inglesa. Os britânicos ameaçaram não fazer comércio com países cuja produção de cana e outros produtos fossem oriundos do trabalho não remunerado. O Brasil então, com enorme alarde e publicidade, edita a “lei pra inglês ver”, só que a prática permaneceria anos e anos a fio. Só o inglês acreditou.
Levando essa ameaça constante institucionalizada há pouco pelo Supremo ao pé da letra, depreende-se de que os truques jurídicos poderão ter sustentabilidade no fato de que, se não se pode produzir prova contra si mesmo, pode-se perfeitamente negar ao patrulheiro a apresentação da CNH, pode-se negar a fazer exames de resíduos de pólvoras nas balísticas ou o estudante pode negar aos pais a apresentação dos seus boletins escolares. Que papelão, no mais supremo desrespeito, na mais justa razão para questionar: “para que serves?”. Afinal, para que serve mesmo um colegiado tão acaciano e dormente?
Há meses, o deputado federal mato-grossense Eliene Lima foi vítima de um disparo de arma de fogo. Ficou internado dias, depois, recuperado, tratou de se insinuar para a necessidade da pena de morte. Com a cicatrização da ferida veio o esquecimento e a indiferença peculiar ao parlamento. Há mil e um exemplo desse arroubo sintomático, fugaz, por parte de deputados e senadores. Outro dia, o senador Cyro Miranda disse ter pena dos colegas porque ganham a bagatela de R$ 19 mil/mês mais vantagens e verbas indenizatórias especiais mensárias. Para um parlamento descarado, judiciário pedante e povo ferrado, eis a lógica.
É cada vez mais sólida a crença de que só a justiça de Deus seja crível, implacável e infalível. Quem sabe, no juízo final, esse pessoal que nos açoita com descalabros, arrogância, riqueza ilícita, indiferença e falta de sentimento público, venha a ser julgado. Resta torcer para que lá nos céus não haja uma outra espécie de STF a lhes conceder com hábeas corpus, livrando-os da justiça divina.
*Jorge Maciel é Jornalista em Cuiabá.
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