facebook-icon-color.png instagram-icon-color.png twitter-icon-color.png youtube-icon-color.png tiktok-icon-color.png
Cuiabá, 26 de Abril de 2024
26 de Abril de 2024

28 de Junho de 2020, 07h:55 - A | A

OPINIÃO / ROSÁRIO CASALENUOVO

Não faça botox nesta pandemia!

Se o indivíduo está com botox, ele irá falar, você só vê a máscara se mexer, sem ouvir som



Falo no campo da comunicação e não da saúde. Recentemente, escrevi o artigo “O baile de máscaras na pandemia” e citei um amigo que encontrei no Aeroporto de Cumbica, em São Paulo.
 
Como apenas olhava para sua testa e olhos, havia sugerido a ele fazer botox, pois estava com rugas. Mas, pensando bem passei a entender que a comunicação entre as pessoas, que antes olhavam para a boca, lábios e seus movimentos para ajudar a entender a sua fala. Isto tem até nome: leitura labial.
 
Vamos entender o que estou levantando neste momento de pandemia, porque temos que nos adaptar ao novo mundo que dizem que está vindo depois da pandemia.
 
Todos usando máscaras na boca e nariz. Você encontra algum conhecido no mercado, que é o único lugar que podemos ir para sair do isolamento, o qual está substituindo os shoppings.
 
Apenas como observação, está havendo um grande número de carrinhos de compras abandonados nos corredores das gondolas, curiosamente o entendido foi que pessoas pegavam os carrinhos apenas para dar uma volta e enchendo de produtos que gostaria de comprar, depois de satisfeito com o passeio, larga o veículo sorrateiramente, indo pegar outro produto, sai à francesa. Veja como estamos carentes shoppings centers. (risos)
 
Voltando ao assunto do botox... A pessoa te cumprimenta falando mais alto e você consegue através do “olá” e de seu gesto ouvi-lo e entender que ele quer conversar um pouco.
 
Ela te cumprimenta com o cotovelo e você deverá fazer o mesmo, tocar no dela. Assim, está realizando uma espécie de contato sinistro.  Ela dá um sorriso empacotado, que é percebido porque fecha e franze os olhos.  Bem aí ele ficará a uma distância de mais de um metro e, com o uso da máscara, você passa a ter dificuldade de ouvi-la.
 
As palavras vão se misturando dentro do pano. Alguma vez, ela arruma a máscara que fica caindo sempre e acaba saindo por cima algumas letras e você tenta pegar com sua orelha o som. 
 
Porque sugiro não usar botox na pandemia? Para você conseguir desenvolver um diálogo através das máscaras, como conversar com alguém dentro do carro com o vidro fechado. Vamos precisar das expressões da testa e dos olhos.
 
Como se fosse uma leitura “testal”, ou “contextual”, quero dizer com o uso da testa. Se seu amigo pergunta alguma coisa e as palavras ficaram atrás do protetor viral, ele irá levantar as sobrancelhas e franzir a testa. Aí você desconfia que ele está perguntando. Se franziu o prócero (região entre as sobrancelhas), ele está dizendo que ficou bravo com alguma coisa. Assim, vai se conduzindo um diálogo, como se as rugas do frontal fossem lábios.
 
Agora, se o indivíduo está com botox, ele irá falar, você só vê a máscara se mexer, sem ouvir som, a testa e sobrancelhas congeladas, sem expressão, como um ventríloquo. Você aproxima dele para tentar ouvir e ele dá um passo para trás para manter a distância. Só que você não pode desistir para não passar como metido ou chato.
 
Precisamos preservar a amizade pois depois da pandemia estaremos muito carentes.Teremos que desconstruir para reinventar tudo. Dentes feios, mau hálito, não têm a menor importância agora. Você pode bocejar sem colocar a mão para esconder a boca que já está tampada. Está vendo? Há vantagens também. Só não pode espirrar ou tossir em público, vão te olhar como um homem bomba biológica. O que achei o máximo foi ir ao banco mascarado. Já imaginou se você fosse passar pela roleta do banco de máscaras tempos atrás? Seria recebido a tiros. 
 
“Migo ou miga, fica meu conselho, mantenha as rugas da sua testa. Se não, você se tornará um ser incomunicável.
 
Rosário Casalenuovo Júnior é presidente da ABOR-MT (Associação Brasileira de Ortodontia).

>>> Siga a gente no Twitter e fique bem informado

Comente esta notícia