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Cuiabá, 13 de Maio de 2024
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18 de Julho de 2012, 08h:45 - A | A

OPINIÃO / ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ

Medidas da presidente

ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ



Provocativamente, dedico este artigo aos estudiosos (e estudiosas) que investem em teorias enaltecedoras do papel de alguns grupos sociais no poder. A mulher é um desses grupos. Tais teóricos creem que isso humanizaria as relações político-sociais, vistas como machistas desde a expulsão de Eva e Adão de um fictício paraíso.


Por que dedico estas reflexões a esses colegas? Porque – até onde sei – não condenaram o discurso de Dilma Rousseff sobre o resultado do Produto Interno Bruto (PIB), referente ao mês de maio. Na hora de campanhas eleitorais, esses colegas, alopradamente, desfraldam tais bandeiras; quando, por honestidade acadêmica e cidadania real, deveriam se posicionar, permanecem no silêncio.


Segundo o Banco Central, houve naquele período um encolhimento de 0,02% de nosso PIB, que é a soma das riquezas produzidas pelo país naquele mês. Além disso, sabe-se também que, nos últimos doze meses, nossa economia cresceu apenas 1,27%, abaixo das projeções oficiais.

Diante da realidade, Dilma, durante a Conferência Nacional dos Direitos da Criança/Adolescente, realizada na semana passada, disse, sem pudor, que “Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz com as suas crianças e adolescentes. Não é o PIB, é a capacidade do país, do governo e da sociedade de proteger o que é o seu presente e o seu futuro, que são suas crianças e adolescentes".


Trocando em miúdos, Rousseff aposta que o tamanho de uma nação não se mede com as riquezas produzidas pelo PIB, mas por aquilo que se faz às suas crianças e aos seus adolescentes, como se para fazer algo concreto pudéssemos dispensar recursos. Francamente!


Antes de tudo, fico imaginando se o momento do anúncio do PIB viesse quando a Presidente estivesse num outro tipo de conferência, cujo público fosse constituído, p. ex., por idosos, ou gays, ou negros, ou portadores de algum tipo de deficiência, se ela faria o mesmo discurso pró-criança/adolescente. Será que não adequaria suas palavras para confortar esse outro público? Será que se lembraria de mencionar as crianças e os adolescentes? Oh, dúvida cruel!

Seja como for, afirmo que o governo Dilma – na mesma linhagem de seus antecessores mais diretos, Lula e FHC – já faz muito (mal, é claro) pelas crianças e adolescentes; às vezes, faz de forma direta, mas na maioria, indireta. Como exemplo, cito apenas duas das políticas públicas, ambas já desmontadas: a saúde e a educação formal.

Toda vez que uma criança é levada a um Pronto Socorro/SUS, país afora, ela já é vítima de uma política pública, absolutamente desastrosa por conta da falta de investimentos. Logo, com um PIB menor, menores serão os investimentos. Elementar. Assim, pergunto: a carinhosa presidente, para substituir investimentos, distribuiria só afagos à população?

No campo da educação, é preciso lembrar à carinhosa Dilma que se seu governo quiser fazer algo positivo – além dos afagos – para crianças, adolescentes e jovens, é preciso destinar – sem dó – mais investimentos ao setor. É preciso valorizar de fato o magistério e quem nele atua com melhores salários, menores cargas de trabalho, carreiras salariais adequadas, mais e melhores condições de infraestrutura. Isso sem falar numa revisão do entretenimento/cultura destinado às novas gerações.


Sendo assim, a presidente, se de fato estiver pensando no porvir deste desprovido povo, já poderia pôr em prática seu discurso. Poderia apresentar proposta decente aos docentes das federais em greve desde o dia 17 de maio. No futuro, crianças, adolescentes, jovens e adultos de hoje agradeceriam muitíssimo.


ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ é doutor em Jornalismo pela USP e professor de Literatura na UFMT.

A redação do RepórterMT não se responsabiliza pelos artigos e conceitos assinados, aos quais representam a opinião pessoal do autor.

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