ONOFRE RIBEIRO
O artigo da última quarta-feira “Cuiabá é uma merda?” produziu repercussões e repercussões. Infelizmente, nenhuma favorável ao espírito “reclamão” até agora demonstrado pelo prefeito Mauro Mendes, de Cuiabá.
De um amigo comum, ouvi a confissão sobre a falta de rumos nesse começo de gestão. É natural, mas não deveria. Gestão é coisa que se planeja.
A propósito daquela conversa com o amigo, trago aqui os conceitos de uma palestra que assisti há algum tempo em São Paulo num workshop sobre gestão.
Em qualquer gestão, pública ou privada, existem três níveis: 1 o pensador. É uma pessoa com habilidades de captar sinais, tendências e percepções tanto do inconsciente coletivo quanto da dinâmica social e fazer delas ideias; 2 o articulador. Este tem a habilidade de trabalhar as ideias e transformá-las em produtos, projetos e programas; 3 o realizador. Este é o realizador, executor dos projetos e das obras, um tocador do palpável. Ele completa o ciclo iniciado lá no pensador e trabalhado pelo articulador.
Na gestão pública costuma se valorizar muito só os realizadores. Vamos a dois exemplos concretos.
A primeira gestão do presidente Lula iniciou com muito bons pensadores vindos do mundo acadêmico. Mas não havia articuladores e nem realizadores. A reforma previdenciária atingiu o tempo de aposentadoria dos acadêmicos e estes abandonaram o barco do PT e do governo quando estourou o mensalão.
O governo ficou sem nenhum dos três níveis, porque não havia ideias, nem projetos e sem eles, não haveria realizações, como de fato aconteceu. Restou ao presidente agarrar-se às bolsas família deixadas por dona Ruth Cardoso, e incrementá-las como o único projeto.
Daí nasceu um pacto com as camadas pobres da população que sustentaram as duas gestões Lula. Pouca coisa mais, porque não havia ideias e nem projetos.
O segundo exemplo foi do governador Blairo Maggi, que não tinha pensadores e nem articuladores.
Conhecedor da fragilidade de estradas, delegou ao secretário de Infraestrutura, Luiz Antonio Pagot, a missão de realizar a construção de estradas. A construção de casas populares era uma aspiração social pessoal do governador. A rigor, as duas gestões foram capengas por falta dois níveis iniciais da gestão.
Tinha excesso de capacidade de realização, mas não tinha pensamento e nem articulação indispensáveis ao terceiro nível de forma abrangente.
O que mais se vê nas gestões pública é a falta de pensadores e de articuladores. Sem eles não haverá filosofia na gestão, nem projetos, e os quadros técnicos, pouquíssimo criativos, são incapazes de produzir alguma coisa que façam da gestão uma oportunidade de transformação da sociedade e da economia.
Foi-se o tempo em que placa de inauguração credenciava gestões públicas. Hoje qualquer obra precisa nascer de um propósito (ideia), ser trabalhada como propósito (articulação) e ser realizada comopropósito transformador.
Fora disso, serão pobres gestões repetitivas.
ONOFRE RIBEIRO é jornalista em Mato Grosso. [email protected]