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Cuiabá, 12 de Maio de 2024
12 de Maio de 2024

17 de Abril de 2013, 08h:55 - A | A

OPINIÃO / DANIELLE BARRETO

Consequências da seca destroem vida e dignidade do sertanejo

“O sertanejo é, antes de tudo, um forte”, Euclides da Cunha

DANIELLE BARRETO



 

É impossível não se indignar diante da situação em que vive o povo sertanejo: sem comida e água, vendo minguar suas plantações e o gado morrer de fome e sede. Não há que se duvidar de que essa situação é fruto – único e exclusivo – da inoperância e irresponsabilidade de governantes que não possuem como prioridade a vida e a dignidade dos que têm no sertão sua moradia. Sim: único e exclusivo. Isto porque a estiagem – enquanto fenômeno da natureza – é inevitável, portanto, nenhuma culpa a “falta de chuva” pode levar. E também porque, como fenômeno sazonal, é absolutamente previsível – bem como suas óbvias consequências. Talvez, com muita boa vontade com os nossos gestores, entendamos que somente a (longa) duração dessa estiagem não era esperada. No mais, nada que não vitime o sertanejo desde sempre!

 

No concernente à adoção de medidas que amenizem o sofrimento do povo trabalhador e lutador do sertão, percebemos a realização de muito pouco – ou quase nada. Prefeitos – no exercício do poder discricionário que o legislador pátrio (confiando – num lapso de otimismo – no bom senso dos nossos governantes) o concedeu, optam por investir o pouco que resta nos cofres públicos (afinal, sabemos que a maior parte dos municípios está em situação de quase “falência”) em festas, em Micaretas… e no São João que se avizinha.

 

O governo do Estado da Bahia não fica atrás das gestões municipais no quesito “omissão”, atuando de forma dinâmica apenas quando o assunto é elaboração de (muita) propaganda institucional. Em meados do primeiro mandato de Jaques Wagner, a Bahia foi invadida por outdoors e peças publicitárias que anunciavam o “Água Para Todos” e o milagre que o programa estava imprimindo pelos rincões do estado. Aí, veio a primeira seca e desmentiu o governador, mostrando que, acima de tudo, se tratava muito mais de Marketing Político bem elaborado e que tinha pouco de eficácia.

 

No tocante ao Governo Federal… ah, o governo federal… Aos três dias do mês de abril de 2013, a presidente Dilma diz: “Vamos proteger o Nordeste dos efeitos da seca”. Só agora? Dois anos de fome, sede e mortes abate o povo sertanejo… e, AGORA, após o lançamento “semi-oficial” (em rede nacional) de sua candidatura à reeleição, a presidente “descobre” que é necessário proteger o sertanejo? Lá vem mais Marketing Político…

 

Assembléia Legislativa da Bahia realiza sessão itinerante para debater a seca

 

No dia imediatamente seguinte ao pronunciamento da presidente Dilma, a Assembléia Legislativa da Bahia realiza “Sessão Itinerante ” no município de Juazeiro para discutir os problemas ocasionados pela seca aos sertanejos. Convenhamos: “conversa pra boi (os que restaram) dormir”! A preocupação dos parlamentares não convenceu ninguém!

 

A fome e a sede do sertanejo, os problemas ocasionados pelos rebanhos/plantações dizimados, não serão aplacados com reuniões para “debater”, “discutir” a “Seca na Bahia”. Reunião para discutir o que? A seca é alguma novidade? Nossos deputados estaduais não conhecem a seca de perto? Nunca viajaram o interior da Bahia? Debater soluções? Agora? Estavam fazendo o quê que não viram que o povo está morrendo há dois anos? Estavam onde? Em outra Bahia? Na Bahia da propaganda do governo do estado? A seca destrói o sertanejo há décadas e nossos caríssimos parlamentares não sabem quais as soluções? Vão debater agora?

 

Na sessão, os discursos alternaram entre: elogiar o governo do estado (discurso óbvio da base governista) e criticar ferrenhamente o governador (discurso óbvio dos oposicionistas). Eu quero saber: o que esses deputados fazem com o dinheiro destinado por suas emendas parlamentares? O que os parlamentares da base governista têm conseguido junto ao governo do estado para suas bases eleitorais? O que os parlamentares da oposição estão conseguindo junto aos seus em Brasília? É isso que a gente quer saber! Queremos prática e não “visitinha de deputado não sei onde”, nem “discurso contra sei lá o que”. Sou até a favor de sessões itinerantes! OK. Mas realizar sessão itinerante para discutir seca a essa altura do campeonato?

 

Agora o que todo mundo percebe é que essas sessões servem para os cofres públicos bancar viagens caríssimas para deslocar uma Assembléia Legislativa inteira para o interior (com assessores e tudo) em aviões, para aproximar parlamentares (que já estão em campanha) do povo. Me digam, sim, que essas sessões servem para Presidente da Assembléia e parlamentares “inundarem” os blogs e sites do interior com notícias sobre seus louváveis debates e acalorados discursos e… aparecer!!! Aí sim… Achamos o motivo!

 

Indústria da Seca

 

Mas há explicações para essa suposta inoperância dos governantes: a indústria da seca é lucrativa! E muito. E sem uma eficiente pressão da sociedade (que tem que estar atenta às ideias/ações meramente eleitoreiras), essa indústria não acabará – jamais cessarão seus lucros porque ela enriquece e movimenta uma grande rede de interesses financeiros e políticos que se sustentam na miséria e indignidade do povo sertanejo (exemplos: políticos que fazem triagem para onde vão mandar recursos do governo beneficiando seus aliados; empresários financiadores de campanha que alugam galpões e carros pipa para órgãos públicos aumentando suas fortunas; prefeitos que não permitem fornecimento de água para todos igualmente, mantendo o povo refém). Quem quer acabar com essa fábrica de dinheiro e voto? Para mim, enquanto as medidas forem “discutir”, “debater”, “plano de seca isso ou aquilo”, “discursos emocionados” – e o povo a esperar morrendo de fome – então a medida está sendo: NENHUMA.

 

Indecência

 

Fazer as constatações desse texto é muito triste! Perceber que em pleno século XXI, a indústria da seca está mais forte do que nunca é desolador. Observar que a inoperância do estado tem como finalidade máxima fazer o povo refém de esmolas e da boa vontade de políticos locais que fazem da água moeda de troca com o povo nos indigna.

 

Até quando seremos um país de políticos indecentes com o nosso povo?

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