facebook-icon-color.png instagram-icon-color.png twitter-icon-color.png youtube-icon-color.png tiktok-icon-color.png
Cuiabá, 13 de Maio de 2024
13 de Maio de 2024

05 de Fevereiro de 2011, 21h:58 - A | A

CIDADES /

OPINIÃO: O que fizeram do carnaval cuiabano?



WILSON CARLOS FUÁ

Esta crônica é um convite a uma viagem aos anos 60 e 70, relembrando os desfiles dos carnavais de rua de Cuiabá, arrume as malas aperte os cintos e vamos lá. É uma homenagem a todos os cuiabanos que de uma maneira ou de outra, participaram ou assistiram o carnaval de rua de Cuiabá. Os prefeitos a partir da década passada descaracterizaram totalmente o carnaval, que era a festividade mais democrática de Cuiabá, o desfile de rua era simples, porém muito emocionante, e os transformadores da humanidade foram modificando carnaval até ficar assim, um carnaval totalmente dependente do poder público.
A Prefeitura virou o muro de lamentação, e a Secretaria de Cultura, virou um cargo de permutas para acomodação de políticos, a Secretário que assume, não nenhum planejamento e em seguida entrega para outro político para satisfazer acordos. E enquanto isso, todas as atividade culturais de Cuiabá a cada ano vai desaparecendo ou transformando para pior. Criou-se o carnaval descentralizado, ou seja, em cada ponto da cidade fica destacado como carnaval desse bairro. Antes o carnaval que era chamado de folia, agora virou o carnaval da anarquia, com um monte de bêbados seguindo um caminhão de som, apelidado de trio elétrico, mas tem gente que gosta de carnaval pulado e descentralizado por bairro, tudo bem, é uma inovação.
Mas estamos aqui para juntos com os cuiabanos, relembrar algumas passagens dos desfiles dos carnavais de rua, que na verdade o desfile acontecia na Av. Getúlio Vargas, que era preparada de um modo simples, a Prefeitura colocava uma corda bem grossa amarradas nas palmeiras e arvores dos dois lados da Avenida, para que o povo pudesse assistir ao desfile sem invadir ou atrapalhar as evoluções dos blocos e escolas de sambas, os gastos eram muito pequenos, construía-se apenas um palanque ao lado da catedral para as autoridades e árbitros dos desfiles que pudessem dar as notas aos vencedores.
Era só alegria, era bom pra besteiiiiiiiiiira, pouco gasto do poder público, poucas brigas e muitas alegrias, o povo era feliz demaiiiiiiiis, e nos Bares da Av. Getúlio Vargas, reunia-se a nata da boemia, bebia-se a boa bebida, conversava-se de tudo ao som do carnaval, podemos citar: o Bar do Bugre, Beto Lanche e o Bar Internacional que era o principal, parece que a alegria morava ali, as grandes gargalhadas misturas com a alegria do som do carnaval, e para finalizar a noitada o lugar certo era o Chopão.



As famílias cuiabanas começavam a chegar para assistir os desfiles no início da tarde, traziam suas "sumbrinhas" para esconder do sol ou da chuva, e ficavam em pé das 14:00 horas até as 20:00 horas, encostavam nas cordas e colocavam as crianças para sentar no "meio fio", e logo em seguida apareciam as Máscaras, que dizia assim: você me conhece, você me conhece, com sua voz descaracterizada para enganar os conhecidos, tinham os homens que vestiam de mulher, como forma de fantasia, para citar apenas um grupo: Os Portelas que sempre estavam lá pela Av. Getúlio Vargas, com as suas fantasias. Mas o grande momento era o desfile dos Blocos, os que mais destacaram foram os seguintes: Estrela Dalva, sob o comando de Zé Maria; Sempre Vivinha, comandado pelo Nhozinho; O Clube dos Marinhos, comandado pelo Nelzinho e Estrela do Oriente que era comando por Jaime Camargo.
Na composição dos blocos tinham bem na frente a comissão de Frete, em seguida Os Índios com os cocares, rodeados com os espelhinhos redondos que eram fixados no suporte na cabeça, e eram enfeitados de penas de emas, araras e tucanos para dar o colorido, cada um tinha seu arco e flecha, e o machadinho de pau na cintura que também vinha rodeado de penas. Em seguida vinha a Rainha que era rodeada pelos Balizas com roupa branca tipo marinheiro e quepe arredondado na cabeça, com suas danças em forma de malabarismo, sua missão era proteger sempre a Rainha, que recebia as investidas do Morcego, este vinha vestido com Roupão vermelho e preto, e o rosto pintado de preto e fazia sua evolução para cima da Rainha na tentativa de pegá-la. E em seguida vinham os Marinheiros vestidos de branco e pedalando suas bicicletas estilizadas de um pequeno navio de papelão pintado de branco, e por fim, vinham as moças e moços fantasiados com o uniforme da escola cantando o Hino próprio, juntamente com a bandinha: ainda lembro o canto da Estrela Dalva:
"Olhai pro Céu,
Veja só como é bonita..............
A Estrela Dalva com o ciúme da lua,
Começou a chorar,
A chorar,
A chorar".
A partir dos anos 70, o houve o aparecimento das Escolas de Samba, destacamos uma que teve tempo de vida, mas teve uma passagem marcante, foi a Escola de Samba - Deixa Cair, foi criada e comanda pelo trio de dirigentes, os cariocas: Beto e China que passaram os conhecimentos do ritmo da Bateria trazido do Rio de Janeiro e logo-logo já tinha os primeiro batuqueiros cuiabanos juntamente com os jogadores do Mixto, que faziam a composição da bateria, eles ensinaram como tocar um Tamborim, um Repinique, um Agogô, um Tarau, um Contra-Surto, um Reco-Reco e Treme-Terra de marcação, e não podemos esquecer o grande carnavalesco da escola -Wilson Diniz, que agitava na organização.
O Deixa Cair, tinha como grande destaque as dançarinas da escola, as moças com muita beleza e pouca roupa, que eram trazidas das boates das noites cuiabanas e muitas eram buscadas das boates cariocas, era samba no pé e grande molejos nas cadeiras, foi a grande explosão no carnaval de rua de Cuiabá.
Entre as Escolas de Samba tinha também a minha querida Mocidade Independente Universitária, todos os anos eu estava lá, tocando o meu tamborim, e arrepiando na Avenida. O comando da organização era composto por: Batista, Abílio, Rico, Jamil, Wilson Breguncci, Estélio, como carnavalesco tinha o Sandro Vilar, como destaque de fantasia vinha Fernando Delamônica e Rafael Rueda, como destaque na Bateria estava sempre presente no comando do Mestre Zequinha, com seu apito de ouro inconfundível e seus batuqueiros, aproximadamente 100 componentes, com o ritmo afinadíssimo, faziam tremer a Avenida Vargas, tinha também os Passistas com os seus Pandeiros: lá estava o famoso Alair Fernando e Marcelo, negões vestidos a caráter : camisa de renda branca, calça branca e sapato branco, e faziam a evolução jogando os seus pandeiros lá no alto, e aparava-o com a mão direita e rolando pelo peito até cair na mão esquerda e depois dava um show de samba no pé, não posso esquecer do Herbert Richers da Silva, era a figura destacada, era o Mestre Sala, com a sua vestimenta estilizada, dava seus passos protegendo a Porta Bandeira Marlene.
Infelizmente, o espaço é pequeno para falar da alegria dos carnavais de rua de Cuiabá, mas haviam grandes Escolas de Samba naquela época podemos destacar, como a Escola de Samba Pega no Meu, do bairro do Porto, comandada por Pacheco, excelente bateria, fizeram grandes desfiles e deram grandes alegrias ao povo cuiabano, estará sempre na lembranças de todos nós.
Tinha também Escola de Samba Pedroca, comandada por Camargo, trazia o samba da COHAB Nova, foi forma em homenagem ao Governador Pedro Pedrossian, e os Batuqueiros foram formados pela experiência do Alair Fernando, e seus ritmistas eram do Bairro Areão, Araes e Baú, que atravessavam a cidade e iam fazer samba de qualidade em outros bairros, saudade do Ripique do Vasquinho e do Valtinho, o Tarau do Cabibi, Contra-Surdo do Miguel, o Agogô do Lau; o Reco-Reco do Kim, o Tamborim do Zeca Adrião, o Treme-Terra do Dititinho Fuminho e do Pinote, só para citar alguns batuqueiros, mas todos foram importantes, ainda hoje quando vai chegando o carnaval, dá uma saudade daquelassssss, o coração aperta e chegamos a conclusão: a Cuiabá das nossas lembranças não existe mais.
Hoje o que se vê, é uma Cuiabá descaracterizada, desumanizada, sem comando e sem rumo, comandada por pessoas que não vêem a nossa cidade com os olhos da cuiabania, ou seja:
- Não tem orgulho da nossa história porque tem origem incerta;
- Não tem saudade da velha Cuiabá, porque seu passado está distante;
- Não tem sentimento porque é um corpo sem emoção;
- E, não tem historia porque é uma cabeça sem um pequi roído de Giga de Memória.
Que "Pírula", Seo!
Vá subir no pau de sebo e ver se estou lá em cima.
Acabaram com o carnaval cuiabano.

 

Comente esta notícia