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Cuiabá, 25 de Abril de 2024
25 de Abril de 2024

14 de Agosto de 2016, 10h:00 - A | A

GERAL / VEJA FOTOS E VÍDEO

Surdos, cegos e cadeirantes cuiabanos são referência mundial no muay thai

Um dos esportes “do momento”, o muay thai não traz apenas benefícios físicos impressionantes em curto espaço de tempo, mas também é capaz de recuperar a auto-estima de quem passou por momentos trágicos.

CELLY SILVA
DA REDAÇÃO



Um dos esportes que mais tem se popularizado no Brasil, o muay thai é uma arte marcial milenar, criada há mais de 2 mil anos, na Tailândia. Com movimentos muito objetivos, pode ser praticada tanto para quem busca mais qualidade de vida e saúde mental, corporal e social quanto para quem pretende se tornar um atleta. O treinamento para ambos os casos é o mesmo, a única diferença é o tempo gasto com a preparação.

“A pessoa renasce. Ela vem sem segurança porque o grande problema é você parar de acreditar em si mesmo e eles param de acreditar porque ninguém acredita", ressalta o fundador do projeto.

Um dos pioneiros do muay thai no Brasil, o lutador Alex Paraná explica que, atualmente, 70% dos praticantes são mulheres, que buscam o esporte pelos seus benefícios, como queima calórica, flexibilidade, definição e tonificação muscular e redução do estresse. Mas os pontos positivos vão além disso e atingem o controle emocional e psicológico, a disciplina, a elevação da auto-estima e da qualidade de vida. São esses aspectos que têm mudado a vida de outro público do esporte, pessoas com deficiência física, que encontram no muay thai a sua superação.

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alex paraná

“A pessoa renasce. Ela vem sem segurança porque o grande problema é você parar de acreditar em si mesmo e eles param de acreditar porque ninguém acredita. Existe um preconceito muito grande com os deficientes. Se a pessoa não tiver um psicológico forte, ele também vai acabar sendo convencido pelas pessoas e, geralmente, essas pessoas já estão meio fracas porque passaram por um acidente e ficou paraplégico. Então, ele já está com o psicológico fraco e ainda chega uma pessoa com preconceito, a auto-estima vai lá embaixo!”, explica Alex Paraná, que é o fundador dos únicos projetos de muay thai voltados para deficientes físicos.

Com 20 anos de experiência na arte marcial, há cerca de 13 anos atrás, Alex Paraná viajou para a Tailândia, o berço do muay thai, para conhecer melhor e se aprimorar na luta. Lá ele desenvolveu uma metodologia própria de ensino, que foi adaptada e se transformou nos projetos “Olhos da Alma”, voltado para alunos cegos; “Thai Libras” para surdos e “Movimento Thai”, que ensina o muay thai para cadeirantes.

“Nós trabalhamos com fisioterapeuta, médico, psicólogo como uma terapia em vários aspectos, como um resgate da depressão. Quando ele [o aluno] nota que ele ainda é a mesma pessoa e que aquilo foi só um acidente, que isso é superado, mentalmente falando, ele resgata tudo o que ele era e com potencial muito grande. Quando isso acontece, ele se torna muito melhor do que ele era porque ele resgata coisas que talvez naquele tempo ele nem dava valor e hoje ele sabe a importância que tem”, conta o professor.

"Quando ele [o aluno] nota que ele ainda é a mesma pessoa e que aquilo foi só um acidente, que isso é superado, mentalmente falando, ele resgata tudo o que ele era e com potencial muito grande", pontua.

A forma como eles interagem, sem separação de idade ou daqueles que não possuem deficiência, é um fator que devolve a esses atletas a confiança. Depois desse avanço, Alex conta que muitos partem para outras atividades, como times de basquete e academias de musculação. “Eles começam a ter também voz ativa para cobrar espaço. Hoje é forte essa cena em Cuiabá”, diz Alex Paraná.

O professor conta ainda que seus alunos deficientes costumam se desenvolver na arte marcial mais rápido do que os outros. Isso porque a falta de um dos sentidos não representa limitação para eles, mas sim aumento do foco e da concentração. “Meus alunos hoje usam venda, mas se eu tirar a venda dos olhos deles não tem como diferenciar quem é cego e quem não é. Eles conseguem aprender mais rápido do que a gente porque eles seguem exatamente a metodologia como ela é. Você consegue ver o muay thai neles porque também o trabalho é muito intenso”, avalia Alex.

Divulgação

alex paraná

O lutador já conheceu, na Tailândia, pessoas deficientes que tentam lutar, mas não conseguem por falta de um treinador voltado para esse público.

Os projetos voltados para deficientes físicos já foi para outras partes do Brasil e até para a Espanha, mas esses atletas ainda não competem profissionalmente porque não existem outras academias com esse perfil de alunos. “O nosso objetivo é transformar em esporte e ter eventos profissionais para eles lutarem. Para isso, eu preciso de outras equipes rivais”, explica o criador da metodologia.

Uma das formas encontradas de propagar essa possibilidade foi não só por meio da luta, mas também da Arte. Com a exposição fotográfica “Eu escolho vencer”, que mostra os lutadores de muay thai com deficiência física durante o treino, o projeto atingiu outros patamares. “Depois disso, eles se tornaram referência mundial”, diz o professor orgulhoso.

 

“O contato físico demora porque ele [aluno] precisa primeiro entender todo o corpo dele. A primeira luta que a gente tem é contra si mesmo. Seria uma loucura deixar alguém tentar a sorte”, diz Alex.

Metodologia

Para ensinar o muay thai e obter os resultados mais eficientes possíveis, Alex Paraná desenvolveu uma didática própria. Com uma aula inicial de 40 minutos, ele afirma que um principiante consegue aprender os conceitos básicos da luta e anda queimar de 800 a 1000 calorias.

Essa aula se inicia com noções básicas como a conduta no tatame, regras de respeito e história do muay thai. Depois disso, é necessário fazer um alongamento e aquecimento. A parte técnica da luta ocorre em dois momentos, individualmente em frente ao espelho, aprendendo os golpes e, depois, com o treinador, aplicando os golpes nos aparadores.

Alex Paraná explica que, apesar de ter uma característica agressiva, no caso de quem compete profissionalmente, o muay thai é uma atividade que requer muita disciplina e, no treino, ninguém sai lesionado. “O treinamento em si tem todo um trabalho de proteção, tem toda uma metodologia para que o atleta não precise se machucar para aprender”, explica.  

O “sparring”, treinamento de embate físico direto entre dois lutadores, só é utilizado após algum período de tempo de treinamento. “O contato físico demora porque ele [aluno] precisa primeiro entender todo o corpo dele. A primeira luta que a gente tem é contra si mesmo. Seria uma loucura deixar alguém tentar a sorte”, diz Alex.

Arquivo Pessoal

alex paraná

Desde que foi para a Tailândia pela primeira vez, Alex Paraná viaja todos os anos para se aperfeiçoar.

Segundo o treinador, o muay thai é a arte marcial mais completa de todas e isso faz com que os ganhos apareçam mais rápido do que em outras artes marciais. Inclusive, os lutadores de muay thai são considerados os melhores do mundo pela própria especificidade do esporte naquele país. Enquanto nós vemos o muay thai como esporte, os tailandeses veem como sobrevivência. Os meninos aprendem desde muito crianças a lutar pra conseguir entrar em competições e ganhar dinheiro. Isso é um reflexo da pobreza do país.

O treino de um lutador tailandês dura, no mínimo, 10 horas por dia, de segunda a sábado. O domingo é usado para competições. Dentre as artes marciais, é o treino mais intenso e mais completo por trabalhar os golpes com todas as extremidades do corpo: cotovelo, joelho, canela e punho.

Envolvido nesse universo totalmente tradicional é que Alex criou seu método de ensino. “O treinamento é muito eficiente nos ganhos, nos resultados por ser totalmente focado na musculatura, na resistência, no desempenho dos atletas, em todos os aspectos ao extremo. Então, o resultado vem muito rápido”, finaliza.

Confira o vídeo onde o treinador Alex Paraná fala sobre a arte marcial:  

 

Veja um pouco do treinamento com deficientes físicos: 

Álbum de fotos

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