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Cuiabá, 25 de Abril de 2024
25 de Abril de 2024

15 de Maio de 2015, 08h:40 - A | A

GERAL / NÃO DÁ PARA COMEMORAR

Com 413 homicídios em dois anos, VG é a cidade mais violenta de MT

Pesquisador critica falta de políticas públicas para mudar o comportamento da juventude, que está ociosa e vê o crime como saída social.

KEKA WERNECK
DA REDAÇÃO



Com 265 mil habitantes Várzea Grande é a cidade mais violenta de Mato Grosso, conforme pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), e está entre as mais violentas das cidades brasileiras.

“Eles acabam vendo a criminalidade como uma saída, um trabalho entre aspas".

Em registro de homicídios, a cidade, que está fazendo 145 anos nesta sexta-feira (15), fica em segundo lugar nas estatísticas atuais divulgadas pela Polícia Judiciária Civil, encostando nos números de Cuiabá, que tem o dobro de habitantes (575 mil).

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De 2013 a abril de 2015, a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que assume crimes de morte cometidos na Grande Cuiabá, registrou 413 mortes violentas na cidade industrial, em diversos bairros, mas especialmente nos bairros São Matheus, Mapim e Manga.

Outras formas de crimes também encontram espaço em Várzea Grande. Só este ano, foram registradas 1.120 ocorrências de roubo, ou seja, com uso de arma, e 1.022, de furto. Ladrões levaram 216 carros, sendo 47 deles mediante arma de fogo. Motocicletas também são alvos. Foram roubadas e furtadas 316 este ano.

Um levantamento mostra que as vítimas e algozes dos crimes têm, preferencialmente, entre 14 e 29 anos.

Divulgação

naldson

Não adianta somente correr atrás do crime, depois que ele já aconteceu. É preciso estudar o cenário que propicia o crime, destaca professor Naldson Ramos, que pesquisa variáveis da criminalidade na UFMT

Este cenário tem explicação científica. O Núcleo Interinstitucional de Estudos da Violência e Cidadania, do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da UFMT (NIEVCi/ICHS/UFMT) estuda fenômenos criminais. O professor Naldson Ramos, coordenador deste núcleo de pesquisas, afirma que não há políticas públicas voltadas para a juventude em Várzea Grande. Um levantamento mostra que as vítimas e algozes dos crimes têm, preferencialmente, entre 14 e 29 anos. “Tanto quem mata, quanto a vítima, está sempre nesse intervalo de idades”, destaca Ramos. Um público ocioso, para o qual falta, historicamente, de tudo.

“Quando há crime sempre há um conjunto de fatores ou variáveis que influenciam no comportamento criminoso. Várzea Grande é uma cidade que, embora esteja diretamente ligada a Cuiabá, recebe uma baixa atenção do Estado, que não proporciona políticas públicas de atenção principalmente para a juventude”, comenta o pesquisador.

Repórter MT

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Casos de assassinatos e execuções são comuns na cobertura dos casos policias feita pela imprensa local

 

POR QUE SE MATA? POR QUE SE MORRE EM VG?

O professor Naldson Ramos afirma, com base em estudos sociais, que quase sempre esses jovens criminosos estão vivendo em situação de vulnerabilidade e riscos nas periferias dos bairros que existem em Várzea Grande.

“É fraca a política para atender a juventude. Falta, para eles, educação, faltam postos de saúde com atendimento decente, faltam ruas trafegáveis, falta qualificação para o trabalho, falta esporte, falta lazer, falta cultura para esses jovens ocuparem seu espaço e seu tempo, de modo a se incluírem nas relações dentro da família e da sociedade”, analisa.

"Qual é a forma de eu ser reconhecido por essa sociedade, para que não me veja como um ser invisível? É colocando uma arma na cintura e apontando para qualquer um".

Sendo assim, a fonte de sobrevivência quase sempre tem sido o envolvimento com drogas, com gangues, com grupos de referência criminal. “Acaba prevalecendo este comportamento violento”, observa o professor.

“Eles acabam vendo a criminalidade como uma saída, um trabalho entre aspas. Já que eu não tenho trabalho, não estou na escola, nem tenho qualificação profissional para ingressar no mercado de trabalho e há uma sociedade marcada pelo apelo ao consumismo e o individualismo, como é a forma de eu ganhar dinheiro rápido? É exatamente através da criminalidade. Qual é a forma de eu ser reconhecido por essa sociedade, para que não me veja como um ser invisível? É colocando uma arma na cintura e apontando para qualquer um, tirando proveito deste poder”, lamenta o pesquisador.

O professor avalia que policiamento somente não daria conta de reverter este cenário, mas reconhece que falta uma política séria de segurança.

“Nunca, nenhum governo, fez um trabalho sério voltado para a prevenção dessas violências. Como a filosofia do policiamento comunitário, por exemplo. Também não há informações de programas sociais de inclusão desses jovens. Como não tem isso, a polícia fica correndo atrás do crime depois que ele já aconteceu e depois disso não tem mais o que fazer, cabendo apenas identificar quem são os autores e tentar puni-los. Aí a impunidade é muito grande, porque nosso sistema de Justiça é lento e vagaroso e consequentementeisso propicia aos jovens cometerem um, dois, três, quatro, cinco crimes, como é o caso do cara que estuprou cinco mulheres em Várzea Grande e só na quinta vez foi descoberto. Isso mostra a falência do sistema de investigação, porque, se tivesse sido preso, na primeira vez que estuprou e matou, outras quatro mulheres não teriam sido vítimas”, explica o pesquisador.

 

"Nosso sistema de Justiça é lento e vagaroso e consequentementeisso propicia aos jovens cometerem um, dois, três, quatro, cinco crimes".

Para o professor Naldson Ramos, falta, em Várzea Grande, tradição com o trabalho de inteligência na segurança pública, baseado em uma investigação das variáveis que estejam influindo no comportamento criminoso na cidade e ao mesmo tempo na identificação dos atores dos crimes.

“Como não há essa investigação preventiva, naturalmente afloram os comportamentos violentos e Várzea Grande se torna a cidade mais violenta do Estado de Mato Grosso e com certeza uma das mais violentas entre aquelas cidades brasileiras com mais de 200 mil habitantes”, constata.

ESTADO DIZ QUE ESTÁ AGINDO

A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) afirmou por meio de nota ao RepórterMT que tem uma preocupação diferenciada com o município de Várzea Grande, por ser o segundo maior do estado e com elevados índices de criminalidade, especialmente homicídios.

“Para controlar esses índices na cidade a Sesp deflagrou de forma sistemática e estratégica, desde o dia 6 de janeiro deste ano, diversas operações no município, o que refletiu na redução em 48% os índices de homicídios nos dois primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, uma queda considerada histórica para a Segurança Pública”, diz trecho da nota.

A Sesp afirma que também está em declínio o índice de roubos, que teve uma queda de 13% este ano em relação ao mesmo período de 2014

“As ações em Várzea Grande continuam em vários pontos mapeados como zonas quentes. Além disso, o município terá reforço em seu efetivo da Polícia Militar, Polícia Judiciária Civil e Corpo de Bombeiros com os novos soldados, escrivães e investigadores que estão em formação nas academias e estarão nas ruas a partir do mês de agosto”, promete o Estado.

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