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Cuiabá, 14 de Maio de 2024
14 de Maio de 2024

08 de Março de 2015, 08h:00 - A | A

GERAL / DIA DE REFLEXÃO

Ciúme é o que mais motiva agressão; são 30 mil casos em Mato Grosso

Na maioria dos casos, agressores tentam ferir rosto das vítimas, para atingir a identidade feminina

KEKA WERNECK
DA REDAÇÃO



O ciúme é o que mais motiva violência contra a mulher em Mato Grosso. Estudos da Secretaria de Política para Mulheres (SPM) apontam que este sentimento destrutivo está presente nas três principais causas das 29 mil 277 boletins de ocorrências registrados em 2014 nas delegacias especializadas e outras unidades policiais no Estado, conforme dados atuais da Polícia Judiciária Civil.

Os homens agridem porque não aceitam o fim de relacionamentos, se há ofensa à virilidade masculina ou quebra de expectativa em relação ao papel da mulher, ou seja, se ela não se comporta como o esperado.

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Neste Dia Internacional da Mulher, 8 de março, a violência doméstica é um assunto recorrente, não somente no Brasil, mas no mundo.

A costureira V.J.S, de 31 anos, sabe o que acontece quando um marido violento não quer se separar e sente ciúmes. Ela deu entrada no Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá dia 6 de janeiro de 2014, após ser agredida com uma ‘paulada’ na cabeça pelo marido.

A agressão ocorreu durante uma discussão na noite de domingo (05), na residência do próprio casal, no bairro Jardim Itapajé, na capital. Os vizinhos que a socorreram. O marido agressor fugiu.

Por o ciúmes estar neste universo do moralismo, na maioria dos casos, o agressor busca lesar o rosto das vítimas, com socos, pontapés ou usando algum tipo de objeto, para ferir a identidade feminina, como explica a defensora Pública Rosana Barros, da Vara de Violência Doméstica de Cuiabá. Segundo ela, todas estas histórias, com suas variantes, são sempre assombrosas.

Dos 29 mil e 277 casos, 7.011 chegaram à agressão de fato. O crime previsto pelo Código Penal e agravado pela Lei Maria da Penha é de lesão corporal. Há ainda casos de agressão verbal e psicológica. Mais de 11 mil e 300 mulheres registraram boletim por sofrerem ameaça de morte e outras formas de “aviso”.

A defensora Rosana Barros destaca que é muito importante prestar atenção neste crime de ameaça porque "boa parte dos homicídios acontecem depois de avisos violentos"

"Boa parte dos homicídios acontecem depois de avisos violentos"

Quem recebeu um aviso desses é a faxineira Luana Lisboa de Oliveira, de 26 anos, que está acolhida na Casa de Amparo de Cuiabá. 

Ela sofreu violência por 14 anos, quase sempre sem motivo e sempre na frente das duas filhas, que hoje têm 6 e 10 anos.

As meninas assistem às sessões de espancamento desde que nasceram, como conta a mãe, que agora diz ter resolvido dar um basta nisso. Por causa disso, foi ameaçada. “Ele me disse: se você não voltar para casa, você me paga”.

"Se você não voltar para casa, você me paga”

Luana está morando na Casa de Amparo até se restabelecer. Conta que apanhou pela primeira vez do atual marido, um marmorista de 30 anos, pai das duas meninas, quando ainda namorava ele.

“A gente estava discutindo e ele me deu um tapa na cara”, lembra. Conforme Luana, o tapa doeu e queimou o rosto de vergonha.

Desde então, as sessões de espancamento foram constantes, com uma folga apenas durante um período em que o casal frequentou uma igreja evangélica.

O marido batia nela quase todo dia, principalmente de quinta a domingo, porque nesse período ele saia para bares. Na madrugada, por volta das 4 horas, quando chegava em casa, geralmente alcoolizado, as agressões quebravam o silencio na vizinhança do bairro Jardim Florianópolis, periferia de Cuiabá, onde o casal morava.

“Muitas vezes eu estava dormindo. Claro. Acordava para abrir o portão e, ao abrir, ele já entrava me empurrando, chutando, dando soco, até eu cair”, conta.

As crianças acordavam chorando, mas às vezes nem levantavam da cama, ficavam lá esperando a situação acalmar para voltarem a dormir. “Minhas filhas sempre assistiam a tudo, minha casa é pequena. Quando não viam, escutavam a gritaria e a pancadaria”.

No dia 3 de janeiro deste ano, logo depois o Natal e o Réveillon, o marido dela pegou mais pesado do que nunca. “Ele me deu tanto murro que deixou meus olhos e meu peito completamente roxos. Ele deu um murro na minha cabeça, que eu fiquei tonta”, conta Luana.

Desde as 4h20, hora que ele chegou em casa, até 5h30, ela apanhou de socos e pontapés. Foi 1h10 de espancamento e briga.

“Depois ele tomou banho e foi dormir. Eu fiquei na cozinha, enrolando, e quando ele dormiu, peguei as meninas e roupas e fui para casa da minha mãe. De lá, fui escondida para casa de um irmão. Quando foi 10h da manhã, ele começou a me ligar, dizer que não ia fazer mais isso, que eu não ia conseguir viver longe dele, que eu não ia conseguir criar minhas filhas, que elas iam ficar abandonadas, mas eu disse que estou cansada de apanhar. E ele então me ameaçou”.

Com medo, Luana registrou boletim de ocorrência. Como ela, cerca de 10 mil mulheres fazem isso todo ano junto à Delegacia Especializada da Mulher em Cuiabá.

Os especialistas reforçam que todo caso desta natureza é grave, porém em alguns deles há risco de vida. Quando é assim as próprias delegacias encaminham para a Casa de Amparo às Mulheres Vítimas de Violência de Cuiabá, referência nesse tipo de atendimento em Mato Grosso.

A casa fica em Cuiabá, mas o endereço não é divulgado. Dentro de muros altos, pintados de branco, vivem, temporariamente, mulheres, que sofreram este tipo de agressão doméstica e seus filhos.

É o caso de uma moça de 22 anos, do interior de Mato Grosso, que está “hospedada” com o filho de 5 anos.

O caso dela é tão grave que nem dá para dizer o nome dela e nem do menino, nem mesmo da cidade onde moram.

O sigilo é por óbvia medida de segurança. Ela denuncia que é alvo de violência sexual, além da física e psicológica, por parte do marido, um diarista, de 30 anos.

Quando ela chegou à Casa de Amparo, tinha a boca cheia de feridas internas, devido à frequência forçosa com que ele cobrava sexo oral. Por causa das feridas, ela mal conseguia falar. Estava debilitada, física e emocionalmente, com a garganta toda inflamada, arisca.

Como ela e Luana, a Casa de Amparo de Cuiabá apoiou 104 mulheres em 2014, com seus filhos (48 crianças). 

Dalete Soares, da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), acredita que esta é uma realidade vergonhosa no Brasil por conta da educação sexista e machista. "Temos um congresso onde os representantes do patriarcado é que dominam a ordem. As politicas e planos de enfrentamentos a estas praticas covardes não se implementam por falta de vontade política de gestores que não vêem o problema da violência doméstica contra as mulheres como um câncer social!"

LEI MAIS SEVERA

O ato de matar uma mulher pelo simples fato de ela ser do sexo feminino está prestes a se tornar um crime hediondo, como é o latrocínio, o genocídio e o estupro.

A Câmara dos Deputados aprovou nesta semana, o projeto de lei 8305/14 do Senado Federal, que altera o Código Penal e inclui o feminicídio na lista de homicídios qualificados, além de colocá-lo entre os crimes hediondos. O texto segue para sanção presidencial.

A proposta prevê ainda o aumento em um terço da pena caso o crime ocorra enquanto a mulher estiver grávida, ou logo após o parto, se for contra uma menor de 14 anos, maior de 60 anos ou pessoa com deficiência.

O acréscimo na pena também é aplicado se o crime for cometido na presença de parentes de primeiro grau.

A pena prevista para homicídio qualificado é reclusão de 12 a 30 anos.

 

A apreciação da proposta foi uma reivindicação da bancada feminina na Câmara Federal, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado no próximo domingo (8). 

DATA HISTÓRICA

Mulheres russas é que inspiraram a data do Dia Internacional da Mulher. Elas fizeram manifestações populares contra a entrada da Rússia na Primeira Guerra Mundial e por uma vida melhor, trabalho digno e saúde. Essas manifestações marcaram o início da Revolução de 1917. Mulheres norte-americanas também inspiraram a data. Pelo voto feminino, foram às ruas das principais cidades dos EUA. 

Mas o que definiu de fato a data teriam sido dois fatos históricos. O primeiro deles as manifestação das operárias do setor têxtil de Nova Iorque em 8 de março de 1857 e o segundo o incêndio de uma fábrica têxtil  na mesma data e cidade, matando várias mulheres.

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