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Cuiabá, 25 de Abril de 2024
25 de Abril de 2024

15 de Março de 2019, 08h:20 - A | A

OPINIÃO / VICENTE VUOLO

Abu Dhabi e a sustentabilidade

É um mundo que parece ser diferente do nosso; eles sabem que tudo é transitório



A viagem cultural prossegue em Abu Dhabi, a capital dos Emirados Árabes Unidos, onde estão os edifícios parlamentares, o Gabinete Federal, as embaixadas, instalações de radiodifusão estatal e a maioria das companhias de petróleo, a sede da Universidade de Zayed e as faculdades de alta tecnologia.

O que até pouco tempo era conhecida como “a cidade próxima de Dubai”, agora está saindo definitivamente da sombra da irmã com atributos sustentáveis. Existe uma proposta mais intelectual e menos consumista, cujo ponto forte é o investimento em tecnologia.

No início de minha peregrinação pelas ruas, logo percebi uma preocupação dos governantes abudabenses em humanizar a cidade procurando aproximar a população da orla marítima. Chamou-me a atenção o “Abu Dhabi Corniche”, um impressionante calçadão de 8 quilômetros de extensão que vai beirando o mar do Golfo Pérsico, que inclui parques, fontes, ciclovias e é decorado impecavelmente com flores. A atração fica por conta da belíssima Corniche Beach, premiada com o status da Blue Flag (Bandeira Azul), o eco-selo mundialmente reconhecido para praias e marinas que garantem a limpeza e segurança da água de banho.

 Outras obras monumentais impressionam por sua grandeza: o magnífico Emirates Palace, que custou mais de 3 bilhões de dólares, foi decorado com muito ouro. Nesse hotel fica o famoso caixa eletrônico de barras de ouro, para os turistas que desejam souvenir ostentação. No hall principal está instalado o Le Café, onde é servido o café com pó de ouro e doces de confeitaria com ouro comestível; a exuberante Mesquita Sheikh Zayed é outra obra-prima, branca inteiriça de mármore - trazido da Macedônia com detalhes em ouro. Possui 4 miranetes (torres) e 82 domos (parte superior do edifício com forma esférica). No interior da mesquita está o maior tapete persa do mundo, feito à mão ali mesmo por cerca de 1.200 iranianas, e levou 2 anos para ficar pronto. No teto, um lustre incrível feito na Alemanha, com diâmetro de 10 metros e peso de 12 toneladas. É possível perceber pequenos pedaços de madrepérola incrustados nas mais de 1.000 colunas de mármore e ouro de 24 quilates. Para entrar na mesquita é preciso respeitar certas regras. A mulher deve usar um lenço para cobrir o cabelo e as roupas não devem ser justas ao corpo ou deixar pernas ou braços de fora. Os homens também devem vestir roupas que cubram as pernas. Beijo na boca não pode!

Outro lugar imperdível é o Ferrari World, um parque de diversões construído ao lado do circuito de Fórmula – 1 Abu Dhabi. O que desperta as câmeras fotográficas é a sua gigantesca cobertura vermelha com design arrojado. É o maior parque coberto do mundo, com 20 atrações, sendo 17 no pavilhão e 3 na área externa. O complexo ainda tem 5 opções de restaurantes com chefs italianos e 2 lojas exclusivas que vendem souvenirs e produtos da Ferrari. O Ferrari World está localizado na Yas Island, uma ilha artificial distante 40 quilômetros do centro.

Mas, como o petróleo é finito, só vai durar no máximo 80 anos nos Emirados Árabes Unidos, Abu Dhabi está construindo a cidade do futuro, com tudo movido a energia solar. É a “Masdar City”, cidade inteligente em busca de emissão zero de gás carbônico. Começou a ser construída em 2005 projetada para ter 50 mil habitantes em 2025. Um investimento de cerca de 20 bilhões de dólares que envolve o Governo de Abu Dhabi, Foster & Partners e a Mubadala Development Company.

Masdar City criou também a Masdar Institute of Science and Technology, o grande projeto estratégico dessa cidadezinha fantástica, que já fabrica um carro totalmente automático, sem piloto, sem nada, usado para ir até o estacionamento. E para completar, a Fazenda de Energia Solar, um complexo de 87 mil painéis distribuídos por 22 hectares, com capacidade para produzir 17.500 MWh de eletricidade limpa por ano.  

É um mundo que parece ser muito diferente do nosso. Olhamos para a grandiosidade de suas construções e para o ouro presente em tudo como sendo ostentação. Esquecemos o quanto cultuamos a opulência e o consumo. Eles sabem que tudo é transitório, as areias do deserto ali estão para lembrar a todo o momento para onde retornaremos. Mas o conhecimento e o saber são permanentes, riqueza que agora querem ter, para preservar o que conquistaram com o petróleo abundantes. Isso será possível ou não se souberem produzir, ao mesmo tempo, as adaptações institucionais e políticas que a sociedade moderna exigirá.

As areias serão as testemunhas de seu sucesso ou fracasso. Espero que tenham sucesso.

VICENTE VUOLO é economista e cientista político.

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